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Mostrando postagens de 2012

Refazendo 'caminhaduras'

Lhe desejo nesse maiúsculo e novo Ano Novo... flores nos cabelos, músicas de vento, ouvidos de concha, vestidos de cetim e sandálias de tecido... Que aposentes o couro cru dos sapatos, as amarras da calça jeans e o tom bege das langeries... Que na virada dediques flores à Iemanjá, em nome de Krishna e bebas champagne ou aquela sidra, que brinda os amores e nos libera do universo do corpo, que habita o mundo azul-mesquinho... Que ames outro. E muito. Denovo. E mais uma vez... Que liberte-se do fantasma do autocontrole, Que não mais temas trair ou ser traído - desapegue-se disso em nome do viver de Clarice, que ultrapassa qualquer entendimento... Que aposente-se de si quando bem entenderes mas recrie-se... Sempre. Que sejas honesto, que saias de casa sem endereços... sem adereços. Que devagar andes, percebendo no olhar dos outros, si mesmo. Mas andes bem devagar... pra poder catar as conchas dos caminhos pedregosos. Que fortifiques os laços. Que me ames - m

Ano novo

Uma nuvem só chove quando cansa de nuvear...       Precipito pobre da complexidade existencial da minha fome.   Nesse novo ano pós morte       - morte maia da ilusão dos anos de renovação, nesse tempo de reflexão ritual das revistas, não desejo amor, dinheiro ou saúde, o desejo único é o de embrutecer...        o espírito, o meu eu. colar em mim a alma pra curar essa angústia, desquerubinizar a dor e a volúpia, ser toda corpo para poder ser puro espírito, des-ziguezaguear os instintos... Eis que sendo o além-corpo, o que se vive é a fome de narciso na alma...        Que no tudo sentir que é        o nada segue sendo... Quem quer que seja, nunca saberei além da ideia. ...Talvez pudesse ser gente vivendo as baixezas da carne na aridez do pensamento.         Cessar-se-ia a fome sendo eu a própria comida? ...Os olhos nublados em vigília... Morrendo a redenção na ideia digerida...          O corpo é o sopro da vida.

O velho Chico

Vim pra Aracaju e... virei caju. cajuína, cajuzeira,  cajueiro, forrozeira, camaleão. Co-artista com a água e com o vento nas molduras das pedras e cavernas que protegem o velho Chico! Rio São Francisco! Emoldurado pelo sertão dos galhos retorcidos, da vida nordestina, do caminho de Lampião e Maria Bonita... Vi o Rio que corta o mar e nunca mais serei a mesma. Agora tenho em mim, de Oiapoque ao Chuí, todas as cores do meu Brasil...

Era amor sua silenciosa patologia...

- Que cor tinha o sexo? Violeta era lilás... quixotesca... Dir-se-ia que não amasse, mas amava tão plenamente que o fim era seu único indispensável pólen... O simples visualizar de um belo e altivo cessar já lhe indiciava o novo começo, o necessário desabrochar... Ela não tinha tempo de ser outono, Primavera era estado de espírito. Transgredia, amava sem escudos... Dir-se-ia que fugisse da vida antes de tê-la vivido, que sua memória era fetal. E era... memória garimpada no sujo das ruas, no desregrado sexo sem rosto, no esvaziado do copo, na droga da vida, na poesia, nas miudezas sem matéria que a levavam direto ao aquário da mãe serpente, ao não-amor : união... para além das fronteiras do corpo e da dualidade existencial porque era amor sua silenciosa patologia, aquilo que carcomia e também desabrochava a cabrocha de coração alado (dir-se-ia ralado?) Constatou que o mundo só povoa amor porque é separação. Quis a dissolução. Escolheu as ruas tortas. Acabo

Árida paisagem de mim

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Minutos de felicidade para horas de sofrimento... O nada. Luto. por um defunto que sequer sabe morrer no negro de mim. ...É o ar que falta, o chão que cabe,  o branco hepático dos novos encontros, a sedução oriunda do tédio nos minutos de esquecimento... Nas horas de dor, a resignação... Depreciação. ...O querer desaparecer do vento, o desfalecer-se das águas... O nada. desde que o seu seco /não/ soou e ecoou dentro de mim... virei deserto.

Aos peixes de aquário

Àqueles que venderam a alma ao diabo da labuta... Peixes presos no aquário computadorizado, seres adaptados, que não sentem nem dor nem melancolia nem êxtase de vida; sem significado. coloridos por fora de amarelo pardo... Entre o ser e o nada, sou esse ser exagerado. Desculpem-me porque vivo em pleno expediente... eu trabalho pra ser peixe de oceano, não de aquário. ...Vida de angústia, vida bandida, vida de amor... Dói carregar, mas sou algo!... não comerciado nem com deus nem com o diabo da terra do sol...

Violeta não nasceu pra ter senhor

Violeta tem raízes rasas. Se espalha pra captar o aroma do mundo e embeleza-se de natureza, pra sempre polinizada... Quem a vê assim, tão simples, tão bela e delicada, quer dela ser raiz. E quem disse que a flor o deseja ao consentir?... Finamente, se expande por detrás das aparências... Violeta não nasceu pra ter senhor. A ela, lhe basta sua cor e exalar e atrair...

Malfeição poética

E naquela noite preenchida pelo ofício, encontrou-se com seu malfeitor. A despeito de sentir-se gradualmente senhora de si - fato conquistado pelas desconhecidas vias da sedução sucedida a cada sessão com seu analista -, a mulher, por ora menina, se fazia de donzela para com seu corcunda de Notre-Dame moderno... - Por quê raios isso sucederia?... Seduzida e sedutora, sentiu, repentinamente, naquele mesmo local povoado pela solidão dos chopes gelados e sorrisos espinafrados trajando paletó, um cheiro inconfundível de sexo... cheiro do mais sujo sexo... Na mesa escura, frases de Foucault e o repulsivo odor... de sexo molhado e apodrecido. A menina, fresca, embrulhada em seu chale rosa, seduzida pelo experiente olhar desnudador - que sabia encontrar-se com enigmas sem destruí-los; revelador de profundas meias-verdades; poeta e jogador -, sentia asco da mera lembrança daquela língua, que revelava seu escuro propósito sendo língua... invasiva, dura, hélice de helicóptero, que; tritura

Oroboro

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"Na verdade, somos uma só alma, tu e eu. Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti. Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,  Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu." Rumi O vento dança, contorna, espalha e movimenta a nau da vida nessas turbulentas águas, afasta o que a natureza bruta esculpe... o amor por si talhado... mãe e filha... Me cospes e mastigas a própria cauda... me adapto. Nesse mundo oco das luzes que cegam e nada significam existe amor porque existe separação. Se oroboro fossemos, não nos amaríamos, não existiríamos... Seríamos eu em você, você sendo eu... uma só alma. nem boca nem ventre... vida. Odeio-te como dom, pois não mais circunscrevemos... Separadas, somos ingratas partes que servem para acordos, leis e a moralidade. Nesse universo seco, odiar-te é imoral amar-te ao avesso, irreal. Agora algo tenho de ser... sobreviver... serpenteio. me adapto. pois sou passageira. filha raptada pelo ve

Entorpecência torpe

Nosso encontro nada tinha de divino Encontro desencontrado, por falha do destino. E por assim ser, nos comíamos, nos devorávamos... Veneno latente e buraco... Consciência do fim já no primeiro abraço Encontro urgente de olhos cansados e bocas dormentes... entorpecente o fim que pautou seu começo e definiu os meios da gente... Consciência inconsciente não fosse, não nos faria céu brilhante, posto o inferno que somos quando teimamos de ser dois... Desafiamos o destino que, escarnecido, por fim nos fez um brinde: Que amor natural assim fosse!... a anti-matéria ilógica, o anti-eu, anti-nós, destrutível, destruidor, destruídos... nós.

Um dia, nós...

Éramos uma cidade, soerguida sem arquitetura, sem pedras e sempre amedrontada e ameaçada pelo intenso fluxo do mar... O tempo ainda não teve tempo de fazer a sua curva e o fim assim se impôs pelo pedreiro da destruição que não soube duelar consigo mesmo... Aonde, só, construístes um muro, formou-se, pois, uma muralha... pois partistes de malas e cuia de dentro de mim residindo agora aqui um eu sozinho, pleno dos escombros do um dia nós... Nessa cidade, construída e destruída, movimentada pelo fluxo do mar e governada pelo ciclo lunar, originou-se uma criatura de alma escura, pois amor vem de dois ela era uma... fêmea de seu "lar". Figura androide, ora solar, ora neblina intimidada, enfurecida, reacionária, sentimental... ao avesso, sem governo, sem si por não ter o nós... carente daquele olhar destrutivo para que se destrua a si mesma e do mesmo amor destrutivo que lha reconstrua no encontro divino dos encaixes perfeitos... Sem o ti, como reconstruir o si?

É o movimento que cria a forma

Inundar a existência com essa maré desconhecida não é fácil não... Essa imersão nessas águas escuras; fluidos nossos, que nosso mundo repulsa; extravasa até a nossa visão, e no mundo que a gente ocupa, pedaços nossos perigosos, catastróficos, sem racionalização... Basta que se abra uma porta para que o que nos era cômodo passe a incomodar, para que o que nos obedecia se desgoverne da gente e lá estamos nós, submersos, dançando a dança macabra do inconsciente, de tambores secos, de vestidos negros, de ladainhas entoadas sem língua, sem gente... Tudo sai do seu lugar e já não somos mais os mesmos... Ver a cara de Hades em cada olhar que se apresenta e... jaz o rompimento do hímen da nossa consciência!... Se diluir em pedacinhos não é pra qualquer Perséfone... Que venham os céus e infernos da gente que eu cedo, como já cedi aos estupros no divã da minha própria escuta, pois que sou porque estou em movimento. Que se diga ao vento: Sei dançar valsa, também sei dançar cumbia!

Tom de cinza

Numa tirada de baralho, foi você quem me escolheu. Sem blefe, foi você quem renunciou... Em ti sempre fui coisa, bibelô. Como despertenço agora se no meu corpo e na minha alma ainda reside o seu jogo?... Ninguém nunca soube o por quê de minhas tantas cores se diluírem no seu tom de cinza mas pra falar a verdade, só queria ser assim coisa pra ser sua coisa possuída, coisa que caminha pra ser coisa despertencida, porém, ainda delimitada demarcada pela sua geografia...

Sensibilidade

A  sensibilidade é a minha puta triste que, dentro de mim, me acaricia e com os meus olhares, em mim chora, todos os dias...

A moça tinha um cílio perdido no nariz...

... Mmm... Mas só pode fazer um pedido? Bem... eu queria... ter o poder de inventar palavras e um coração! Por que o meu já quase saiu pela boca um monte de vezes... Juro! Eu sinto... Será que a gente consegue trocar, moça? Mamãe disse que no mundo se vende tanta coisa... casa, comida, cachorro e promessa de dinheiro. Por que eu não posso trocar meu coração? Mamãe vende promessas o dia todo, pra muita gente... Ela fica muito no computador, não me olha muito e eu só fico imaginando ela entrando numa bolsa rosa, todos os dias, pra vender promessas pras pessoas... Ela diz que trabalha na bolsa de valores, mas não me promete nada nunca... O que são mesmo valores? Ei, senhora, por que a gente não pode trocar o coração? Tem dias que ele me aperta, me sufoca e até parece que vai me matar... Eu não gosto dele não! ... Ei! Ei! Moça! ...

É o muro-mundo...

Não me caibo em projetos Não nasci pra portar metas. Me conte isso, todavia! Nesse mundo-dobradiça só me cabem os sonhos só me resta o destino que um quase-Deus oferece com escárnio. Se meu mundo é dobradiço Por que eu vim com desejos tão intensos? Não tenho o direito de desejar Não posso fixar a visão. Meu olhar é de vagar, é sem chão. Mas por que acontece de eu fixar a visão? Eu sou... um corpo de tentáculos colantes sem encaixes num muro branco, tateando... É o muro-mundo que separa divisão que sequer acolhe... Bem sabes... não tenho fixação, mas cadê a minha visão? Esqueça-se, ora, pois! Você é a sua ilusão.

Mentira torta

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(Por bobbycaputo) Eu sinto no tato o que chove na alma. Sinto no tato o que me toca e o que não toca. Meu desejo de fundir é a essência dessa minha vida que levo torta...  Sei quem sou, mas as limitações das palavras me cortam... Elas não nos explicam, nos tornam...  Em verdade, não sei quem sou, uma língua que toca... algo de flor... Não posso dizer quem eu sou - mais uma mentira torta. Eu sou o que sinto. Sinto que sou! Receptáculo de todas as cores, sons e afirmações, sou o que sinto nos lábios...  Que me molde o vento que me baila! Eu só sei viver dançando...

À pequena senhora dos meus sonhos...

Ontem conheci uma menininha de olhar sonhador, sozinha, que luzia... Não sabia que era sol, iluminava sem saber, se sentindo sem órbita por aí... Tão pequenina e tão senhora, do centralizar e luzir A pequena refletia amor, mas só porque a escuridão era sua casa. Sua dor era só, e quanto mais brilhava mais o seu calor repelia... Sem afeto, de devaneios calados e poder de criação tolhido, por ninguém foi parida, por ninguém foi gerada. Sendo assim, a menina iluminava... E sentia, com o calor de suas entranhas vivas. Artista e artesã, esculpia o mundo em sua brincadeira de criança, nesses piques de papel unia para si o amor do mundo... pondo o máximo de vida naquilo que tocava... Desse jeito vivia sua infinitude de astro, sem horas, nem minutos... Perdida no espaço. Sua vida era o alheio, Abduzida sempre ela estava, a falar de amor, que dava, mas não encontrava nunca encontrava, frágil se desamparava... Essa menina sem tempo, sem enquadramento, sem limite Nunc

Para João Marítimo

João, Preciso lhe dizer que na outra semana resolvi abrir o armário e, finalmente, encaixotar tudo. A bailarina de cordas, as embalagens de chocolate, os bilhetes, o vaso indiano e as poucas coisas que constituíram o nosso lar. Nada tinha poeira. Minha gaveta de poesias ainda grita e eu ainda me nego a tocá-la. Preciso dizer que não trago mais lágrimas nos olhos, nem malas nas mãos. Joana ainda me chama para cruzar a Rio-Santos e o Pedro já me pediu a mão. Tenho cuidado de tudo. Das crianças, dos entulhos, da casa e da alimentação. Me perfumo como antes e ainda uso aquele baton... Mas hoje eu vi do vento os olhos de medusa... Me petrificaram! Como a gente faz agora para derreter, João? Preciso dizer que o lar vazio me dá menos trabalho, menos cansaço, menos agitação. Quando necessito, saio, ligo, e no dia seguinte, ao lar retorno, sem vozes e sem nãos. Tenho me virado com as compras. Mulheres de água também aguentam a pressão nos ombros. Mas ainda não sei o que fazer com as

Uma ode à moringa de barro!

Uma ode a moringa de barro! Que me sedenta propositalmente pra, unicamente, matar minha sede de vida. Me recria... Possessiva, não me admite jarros, garrafas ou geladeiras... Filtros? Do barro, o amor esculpido, talhado, abençoado! Água benzida! Da minha avó é a moringa, antiquada quanto a minha vida, linda quanto o desejo da gente que paraleliza com essa morte moderna... Do barro, jaz a primavera... Sinto gosto de vida já no sentir o peso nos braços ao portar a moringa, até o gole largo... Dessa água o que bebo é o desejo tribal de mato e o toque de infinitas mãos de irmãs femininas... Mãos entregues e artistas sem sujeito, sem nome... Não obstante, de finalidade conhecida, coletiva, una... Mas de onde vem esse charme moringalês? Da avó que cheira a luz, alecrim e camomila? Ou da memória do gosto acre do vinho pisado, artesanado na moringa? É esse passado tribal que a gente bebe no presente... É a unicidade que a gente sente enquanto flutua nesse mundo em par

Cama de gato

Meus minutos são o frio. Minha vida é de um lilás entrelaçado, fino... Qual é mais vida? Aquela que é vivida ou aquela que é sonhada? Acho que essa essência minha reside mesmo no universo dos sentidos, das palavras... Nessa vida que ainda não pôde ser moldada. Ah, essa vida minha... Sempre por um fio, mas nessa cor delicada... É uma cama de gato. Imaterializada!

Nunca tinha existido nada de enigmático no número 4!...

Até as 4 horas de uma tarde triste, ela era uma menina apaixonada, que chorava de dores e amava e odiava o mesmo bicho homem...  As faíscas que juntos geravam faziam com que ela se sentisse viva.. ...Uma carta, uma insônia que madrugava, um coração que palpitava, uma geleira imaterializada, um escrito sem cor...  Uma coitada cheia de amor! Após as 4 horas; branca, seus lábios pintou;  se arrumou; decidiu; telefonou e,  a sós, saiu. Se amou. Já no trajeto sem som se amou...  E bastou que alisasse os próprios cabelos para que, de sua pele, sentisse um leve tremor... O público notou aquele olhar que sempre fora penetrante, ainda que de sentimento etéreo;  e aquele ar de sorriso confiante; aquele desejo ambulante... Cruzava as ruas sem procurar olhares, era ela seu próprio alvo.  Enquanto olhares acompanhavam aquela sensação compartilhada das mãos geladas na nuca efervescente,  sentira os cabelos, de fato, curtos;  excitadoramente mais curtos do que qua

Se soubesses...

Se soubesses da liberdade que tenho em mim, aquela que busco como chama, que visto e professo, Não me deixarias ir. É quando vou que me perco me diluo e arisco sumir. Por quê negas essa linda solidão, Por quê se conténs assim de mim? Seja amor de quem é de amor! Seja minha solidão conjunta... Seja assim meu, Me tomes por sua... Amor seu, Te quero livre pra me amar sem pressa, sem tempo, sem mundo. Te quero livre pra gritar sem medo desses olhos meus, Que rechaçam o que clama essa minha alma crua. Que me tragues de uma vez só! que me assustes! Que assim vou e fico de vez... Sendo sua...  Pra onde ir? Não me penses nem decifres que me arisco... Sou vida assim que quer morrer para além dos minutos da sua pele nua... Se soubesses da liberdade que tenho em mim não me deixarias ir. Pois que doida vou sentir outro mar com ressaca de mim... ... Se soubesses as contradições que existem aqui...

De canela e alecrim

Nada mais me pertence aqui e eu não pertenço a nada disso... Maldigo o ventre que me fez mulher, Maldigo o câncer que me fortifica, A força que carrego por descendência, O ventre frutífero, O nascer histérico, A histeria, Toda e qualquer herança que não é minha. Sangue em mim, Estopim de uma vida insana. Arranha essa garganta! Cospe essa dor, Mulher de aço! Maldigo. Grito. Arranho. Nego essa herança que não pedi. Alfineta o que é feliz! Onde tudo é sólida, sobrepujada e sinistra rocha sou cigana e aprendiz  de tudo que se contrapõe de tudo que não se toca e não tem raiz. Um rito de dor e agora, a derrubada de árvores... Sim! Caules podres precisam morrer! Flores primaveris nascerão quando eu morar residir, pertencer. E virão com cheiro de chuva e borboletas no jardim... De esotérico só o cheiro da canela E o tempero alecrim... Malas se aposentarão, De mulher virá uma menina sem dentes, Nada de bancos ou se

O amor dura um copo!

Meus lábios nem moldaram o cálice dos seus quando fui ao velório meu... Pois traguei quase todo o amor e me deparei com a morte. O amor dura um copo! Pra onde a gente vai quando a gente morre? Pra onde a gente vai quando o amor morre? Travessia para os vários da gente na árida caravana das coisas... Quem é de amor não se contenta com a vida em ramos A morte é vida seca. Mas morrer em ti é vida plena... Tenho medo da morte. Então bebo do amor o cálice como quem preserva a última gota, a gota que escorre, que amortece, mata e morre. Eu não quero morrer o amor! Não quero matar o amor! Mas guardar amor como poupança... Amor se poupa? Sei que se come. Se consome... Como ser fogo e também amor que dura? Eu não quero morrer o amor Não quero matar o amor... Apenas morrer em ti eu quero. Essa morte diária de um amor que nunca morre... Eu não quero matar o amor tragando essa última gota-morte. Ainda não aprendi a beijar esses lábios gelados, fonte do todo amor

Choro meu

Saudades do berro. Desejo do grito. Independente e estremecido grito na multidão... Sonho de choro pintadinho de azul  ou de vermelho... Pois hoje o choro não tem cor,  não tem som,  nem anseio... Tem é dor.

Menino mar

E naquele dia era o vento que abria os caminhos e emoldurava os nossos sorrisos e despenteava os nossos cabelos.. Éramos participantes da vida e nada portávamos além de nossos desejos e a solidão que se queria conjunta, quente e cheirando a mar... A filha do fogo com o filho do mar.. e o vento. Era o vento que nos dançava. Suas mãos eram de vento, embora não vazias. Meu corpo todo era então tomado por essa brisa que nos lambia com sua gelada e salgada língua, Que tornava tudo móvel, inclusive nós. Foi naquele fim de tarde que senti, em seu abraço de vento e desejo de mar, abraçado e aquecido todo o desamparo do mundo. Você bagunçava a areia, meus cabelos, a praia, o ar, meu vestido e, aos poucos, ordenava tudo aqui dentro... Inesperado, sorrateiro, doce e leve, me deixei bailar e bailei até me sentir ainda mais leve que tu, meu doce menino de coração vermelho. Então era eu o próprio desejo, cort

Uma nota só

Borboletas mortas em todos os cômodos de uma prisão... Solidão nada mais é do que o próprio desejo do não se conhecer só. Para ser livre, ser só? Ou ser só para não doer?...

Descaminhos

...E imersa em uma ausência de anos a fio, em um completo descaminho, chega o dia do reencontro... Despertei com o habitual peso da noite a reclamar pela inércia; escovei os dentes; lavei o rosto; li meu jornal matutino; bebi, sem açúcar, meu café amargo; saí com o cachorro pelo quarteirão e, em 40 minutos, estava pronta. Como quem amarra o cadarço do tênis, estava eu na mesa do Café a esperar... Em um misto de especulação, desconforto e obrigação, blasfemei aquele encontro no horário crítico da manhã. Eu... com tantas coisas a fazer. Por quê não disse, hoje não?  Na minha frente surgiu ela. Moderninha de aparência, com novo (ou velho?) look: cabelos curtos, esbelta, com um olhar afável de quem, em vão, deseja reconstituir e restabelecer, em instantes, o vazio de mais de uma década que 5 anos deixaram... Nos abraçamos e eu só pude sentir saudade... Uma saudade consciente de sua perpetuação. Já éramos outras... Como que por obrigação, nos interessamos uma pelo des

Mar de dentro

Um prólogo: Caos, Corrupção, Liquidez, Desatenção. Mal estar na civilização. Aceleração, Frenesi, Angústia, Desatenção, Fragmentação, Ação. Um ser aflito pela liberdade pede trégua. Quer aprisionar-se, ou melhor, conhecer seu cárcere. Tempo. Relógio. Controle. Auto-controle. Subjetivação do caos dominador. Desajuste. ...Trégua. 'Criamos neuroses para não enxergar coisas indecifráveis' (frase aproximada, presente em "Manhattan"). Em um mundo cada vez mais particionado, nosso inconsciente emerge em flashes. A racionalização é difícil quando o que se escreve vem de dentro... Do mar de dentro. Uma psicológica narração: Ela era solidão. Não sabia por que era solidão. Como queria integrar-se ao mundo... (!), mas os laços a amedrontavam.  Aprofundava-se, ia fundo, mas apenas até o limite de encontrar-se a si mesma, não sabia, todavia. Dedicava-se aos amigos com tanto afinco, que lhe doía ter de procurá-los quando precisava. - Porq

Cada Tempo Em Seu Lugar

Preciso refrear um pouco o meu desejo de ajudar Não vou mudar um mundo louco dando socos para o ar Não posso me esquecer que a pressa É  a inimiga da perfeição Se eu ando o tempo todo a jato, ao menos Aprendi a ser o último a sair do avião Preciso me livrar do ofício de ter que ser sempre bom Bondade pode ser um vício, levar a lugar nenhum Não posso me esquecer que o açoite Também foi usado por Jesus Se eu ando o tempo todo aflito, ao menos Aprendi a dar meu grito e a carregar a minha cruz ... Cada coisa em seu lugar ... A bondade, quando for bom ser bom A justiça, quando for melhor O perdão, Se for preciso perdoar Agora deve estar chegando a hora de ir descansar Um velho sábio na Bahia recomendou: "Devagar" Não posso me esquecer que um dia Houve em que eu nem estava aqui Se eu ando por aí correndo, ao menos Eu vou aprendendo o jeito de não ter mais aonde ir ... Cada tempo em seu lugar ... A velocidade, quando for bom A saudade, quando for m

Muralhas fluidas

Um bloqueio indesejado nada mais é do que resquício do não Não resposta, não paixão, solidão. O querer consciente de amor contrasta-se com um momento embarreirado de nãos, senões, incapacitação involuntária de amor. Daqui de dentro escutam-se esganiços roucos loucos por idealização! Eu guardião... De palavras sozinhas que se nota, pois palavras são espelhos da alma que, de locais inabitados, surgem como canção. Digo de palavras, pois delas notam-se bloqueios, Passageiros, posto que palavras também são libertação. Em processo de cicatrização vejo coisas passarem E aos que me dirigem sentimentos Segue um simples lamento... Vai passar!

Um espaço

Possessão? Não! Um ser tão livre... Existe um lado obscuro, porém... Um espaço tomado, Composto de recordações, lembranças, memórias e amor. Esse suposto inviolável, Protegido na calada da noite de tão frágil, 'É a parte que me cabe deste latifúndio' da consciência. Minha posse... Nuvem nebulosa, que se interpõe ao meu espelho (consciência de mim). Existe-se no latifúndio da consciência, Mas quem vive para além desse domínio? Medo de quem não possui seu espaço!...

A menina que queria consertar o mundo

Era uma vez uma menina que queria consertar o mundo Mas com amor não podia... Na ânsia de tudo mudar Perdeu o tempo Mas o tempo não para Então perdia as horas das coisas a materializar. Certo que ela destoava... Expansiva, mas com coração triste, Defendia a todos, menos a si mesma; Era o impulso criador, mas lhe faltavam mãos de artesã para tecer e arrematar. Resolvia por deixar tudo no ar... Queria ser livre pra sentir, mas precisava ser. Importava-se com o alheio pensar. Em frenesi planejava, Atuava em infindáveis causas mirabolantes Querendo consertar as injustiças ou, ao menos, seu coração. Não era Dom Quixote, pois lhe fazia falta Sancho Pança, Lhe doía tanta limitação. Talvez, justamente, por sofrer tanta castração, Não sabia dizer não. Acumulava as dores ao redor E pela ação cega se projetava. Corria, movia-se, mas estava sempre fadada ao mesmo lugar. Era ela mera impulsão? Tentou refugiar-se nos sonhos e na arte Unindo tanto sentir aos tantos p

Amor da cabeça aos pés

Clareza de sentimentos... Que lindeza esse sentir! O mundo que nos quer, Pessoas de coração puro ao redor... O eterno é o aqui! Deus somos nós, Todos nós... Nosso coração não é nosso É o todo de tudo... ...Tudo que clareia, tudo que reluz, que chora que ama. O amor... Nada mais lindo! O sentir... Nada mais concreto! O mundo não existe. É o amor o Deus da criação, de onde tudo vem, pra onde tudo vai... Tudo é uma projeção. "Eu sou amor da cabeça aos pés"!... ...Sem nenhuma concatenação, sem nenhuma racionalidade, sem nenhum fio de meada, sem nenhuma estética ou estrutura... Sou esse sentir incrível, livre, imenso... Sou incrível Sou o outro Sou o amor...

Terrena

Esse olhar tão atento Exibe um eu tão perdido, moça Que como gostaria de arrancar-te dessa omissa dor para encontrar-te em minha etérea vaguidão!... Sua dor inconsciente é tão latente E atinge tão profundo meu bem te querer Que, ao analisares, invenção lhe pareces o que sinto... sua triste confusão. Choras sem saber porque, desorientado coração, Que descolar-te quero dessa fecunda materialidade Inundando toda sua ordem e perfeição. Tanto amo, terrena, que desestabilizar-te-ei para que te alcances, Para que te percas e te encontres Um olhar perdido: consciente sofreguidão!...

Oração

Me sabotei a mim. A esmo vivi. Como um corpo vazio neguei o que me movia: meu eu amigo, o único significante dessa vida; a energia das flores; minha parte no vasto mundo; minha real compreensão oriunda de dentro... Passei a viver dos reflexos de minhas emoções. Me perdoo, mas não posso com domínio restabelecer meus domínios... Preciso mesmo é rezar pra mim. Perdoo meu individualismo, Agora con-vivo com ele. Perdoo minhas crenças, Agora não temo mais o ridículo de tê-las. Não me sentirei menos livre com meu ocultismo, afinal, sou livre para admiti-lo. Coerência não é pra mim... Ser-tão de emoções e maré mansa. Reato com paz os isolamentos que anos de sabotagem fizeram aqui. Não adentro com violência nas estâncias de mim. Me perdi. Já reconheci. Vi que o reencontro não é tão belo e fácil como se ilustra. Frustra... É que meu orgulhoso eu profundo segue em processo de perdoamento pelo desligar sem mais do objeto (perdido) eu. Mas não me ausentarei mais

De passagem

Não sinto saudade de você, sinto saudade do amor que um dia me despertou, da velha estupidez, da minha inspiração. Os anos trouxeram racionalidade e autopreservação que ao, acertadamente, enxergar no amor ilusão, me expuseram ao risco do não mais sentir. Incapaz de restabelecer os arquétipos, agora amo objetos e dores, aromas, vazio, saudade, cores. Como uma fera reúno os cacos daqui. Em breve, creio, voltarei a sentir...

Solidão desacompanhada

Essa noite apenas blues, intoxicação e o eu que não partiu. Desgoverno num mundo vão vale. Não iniciativa, minha única preservação. Hoje não. Encerrado o expediente pra novos desapontamentos... Invejo o lobo que uiva pra uma lua cheia tão si em sua solidão musical... Assumo então a covardia, minha única ostentação e a minha amiga, essa tal solidão. Represento o mundo, afinal. Quem se responsabiliza pelo miserável sentir? Sensibilidade, sua puta triste, ninguém te deseja mais. Aposente-se! ao menos de mim...

Vida des-celula-da

"Célula =  elemento fundamental da matéria viva" (?) Incomunicável Sem fios, sem pressa, sem contatos. Bom é sair da rotina daquelas necessidades inadiáveis. Exilar-se daqueles seres pesados. As vezes, a vida presenteia o que, antes, pesar era. Erra e acerta. Recarregar a vida-bateria Perder-se os horários. Pulsos livres, descelulada sou nós sob meus olhares sofridos, angustiados, pacatos Entregues...

Estamirar

(Um rebuliço criado por Marcos Prado) Alecrim para sentir, proteger de magia, curar, oração para conter, trabalho para comer, rotina para ordenar. Desconexão para conectar. Romper. É o gás tóxico que efervesce aqui dentro Do lixo social, do lixo de consumo. Uma fotografia: Água quente, Sonrisal. O nó da garganta, as dores do mundo, a omissão, o lixo extraordinário... O animal que mais sofre é o ser humano. O ser humano par. A Terra morreu... Estamiras somos nós. Cuspidos aqui criamos Toda a sorte de subterfúgios, Todas as formas de Deuses. Depressão ou loucura inerentes... "Oh Lord, won´t you buy me a Mercedez Benz?" Desabafar de mim... Palavras já não dão conta..

A espera

Fumaça, aroma, quarto, bolero, solidão, espera... Passiva e sozinha espera. Vazio que espera esvair-se. Noite, expectativa, resposta sozinha Um homem, uma projeção. Mulher, sentir contido, com tudo que (in)segura medo, orgulho, desejo de penar. Cárcere invisível. Sentir vazio. Acordados sonhos alimento. Vazio que sufoca. Infinita espera.

Reencontro sem nome

"A gente é em lugares que a gente não está". Na busca por verdade, por sociedade, pelo outro Pelo caos, pela dor, pela emancipação Encontrei minha própria dor, coragem e fraqueza. Em um povoado antigo Me reconciliei comigo E me amei. Reencontrei velhos desejos, velhos sonhos, Velhos pesares tão relegados a própria sorte que, Insuperados e omitidos, se haviam esfriado E de tanto calcário havia me tornado eu mesma calcário. No encontro próprio chegamos ao coração do outro. Mas foi necessário um mundo antigo, de coisas antigas, De povo antigo, De uma música folclórica, De um livro que diz de ruínas e escombros. Foi necessário fugir do sonho e encontrar uma realidade ácida, De direita e esquerda De ambos mundos. Foi necessário passaporte, coração aberto, Veias abertas e uma América Latina, Muitas necessidades e um agir distinto. É preciso antes de tudo emancipar-se de bocas e ouvidos. Liberdade é o que não possui nome    Nome omite o homem Oprime Tant