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Mostrando postagens de fevereiro, 2023

Queria era que tu apreciasses

Queria era que tu apreciasses aquela ostra na praia, não a carne mole, mas a pérola que surge da poeira no aconchego das cavidades internas. Queria era que tu apreciasses o cheiro do sal, os segundos que compõem este poema e o minuto que se decantou agora feito grão de areia. Queria era que tu apreciasses a beleza perdida e renovada  nas intempéries do tempo, mas você fala e você fala e você fala e não nota. Acontece que tu me amas e me pedes que eu fique eu fico. com os olhos na praia, com as mãos na ostra, banhada em teu cheiro de casa enquanto buscas o vento de outra piada e você fala e você fala e você fala  e não percebe que eu sou  como aquela água que bate na pedra. Dizes que eu tiro leite de pedra? Queria era arrancar o teu silêncio como saia  que revela. Mas tu que cantas teorias e cidades, se tu visses e amasses aquela ostra azul da praia, algo de mim, talvez soubesses...

o amor A-parece

Uma vez bem que pensei  que o amor fosse uma âncora na bahia para confortar dias sem peixe e celebrar festas no cais. Sonhei com o amor como brisa refrescando a estiada, acalmando a brasa das paixões febris. Pensei que o amor curasse e que, como os abacateiros da refazenda, semeasse amanhãs... Mas amor não parece bahia, nem brisa o amor A-parece em mim como um vão, um mosquito que zumbe, insondável mistério - apagão na razão. Eu sonhei com um bote de salvação, mas amar é o norte  que só procura quem já perdeu ou a busca de um norte na beira da ilha sem bote - travessia, se já abraçamos as mãos.  Amanhã pode ver nascer mais um, amanhã pode ser que não seja mais nós, amanhã pode ser que seja eu, apenas eu  numa triste bahia encarando a morte: outro norte.                                                                     Ou não.