o amor A-parece
Uma vez bem que pensei
que o amor fosse uma âncora na bahia
para confortar dias sem peixe
e celebrar festas no cais.
Sonhei com o amor como brisa
refrescando a estiada,
acalmando a brasa das paixões febris.
Pensei que o amor curasse
e que, como os abacateiros da refazenda,
semeasse amanhãs...
Mas amor não parece bahia, nem brisa
o amor A-parece
em mim como um vão,
um mosquito que zumbe,
insondável mistério
- apagão na razão.
Eu sonhei com um bote de salvação,
mas amar é o norte
que só procura quem já perdeu
ou a busca de um norte
na beira da ilha sem bote
- travessia, se já abraçamos as mãos.
Amanhã pode ver nascer mais um,
amanhã pode ser que não seja mais nós,
amanhã pode ser que seja eu, apenas eu
numa triste bahia encarando a morte: outro norte.
Ou não.
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