Oroboro
"Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu."
Rumi
O vento dança, contorna, espalha e movimenta a nau da vida nessas turbulentas águas,
afasta o que a natureza bruta esculpe... o amor por si talhado... mãe e filha...
Me cospes e mastigas a própria cauda...
me adapto.
Nesse mundo oco das luzes que cegam e nada significam
existe amor porque existe separação.
Se oroboro fossemos, não nos amaríamos, não existiríamos...
Seríamos eu em você, você sendo eu...
uma só alma.
nem boca
nem ventre... vida.
Odeio-te como dom, pois não mais circunscrevemos...
Separadas, somos ingratas partes que servem para acordos, leis e a moralidade.
Nesse universo seco, odiar-te é imoral
amar-te ao avesso, irreal.
Agora algo tenho de ser... sobreviver...
serpenteio. me adapto.
pois sou passageira.
filha raptada pelo vento,
sou o descamado relento...
O fim é o meu único começo.
em posição fetal me protejo... na morte que me trouxe vida.
me destruo.
para que sejamos uma... pedra rústica... não mais insuportáveis mãe e filha.
O mundo à ilusão serve.
eu sou peixe de águas profundas,
que cego ilumina desamareladas cores... deságua...
Não parto, não fico...
De onde fui cuspida, re-torno.
Oroboro.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPensativa sobre o Oroboro que devora e separa a mim..como podem ser dois, ou duas separação, ao invés de comunhão? E eu que pensava o mundo dos números como acúmulo, será a separacão uma soma de "nós" perdida?
ResponderExcluir