Oração

Me sabotei a mim.
A esmo vivi.

Como um corpo vazio neguei o que me movia:
meu eu amigo, o único significante dessa vida;
a energia das flores;
minha parte no vasto mundo;
minha real compreensão oriunda de dentro...

Passei a viver dos reflexos de minhas emoções.

Me perdoo,
mas não posso com domínio
restabelecer meus domínios...
Preciso mesmo é rezar pra mim.

Perdoo meu individualismo,
Agora con-vivo com ele.
Perdoo minhas crenças,
Agora não temo mais o ridículo de tê-las.

Não me sentirei menos livre com meu ocultismo,
afinal, sou livre para admiti-lo.
Coerência não é pra mim...
Ser-tão de emoções e maré mansa.

Reato com paz os isolamentos
que anos de sabotagem fizeram aqui.
Não adentro com violência nas estâncias de mim.
Me perdi. Já reconheci.

Vi que o reencontro não é tão belo e fácil como se ilustra.
Frustra...
É que meu orgulhoso eu profundo
segue em processo de perdoamento
pelo desligar sem mais do objeto (perdido) eu.

Mas não me ausentarei mais.
Individualismo,
mais que querer-te,
preciso-te aqui!

Rezando para minha vaidosa alma profunda
Reconstruo aniquilações,
unifico as ilhas de mim.
Vejo que o todo não se faz com partes.
E lá estava um corpo só...

Como pode...
... um corpo,
maltratado corpo,
visto como a quintessência da vida?

Retorno, pois, lenta ao seio de minha morada...

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