Refazendo 'caminhaduras'


Lhe desejo nesse maiúsculo e novo Ano Novo...

flores nos cabelos,
músicas de vento, ouvidos de concha,
vestidos de cetim e sandálias de tecido...
Que aposentes o couro cru dos sapatos, as amarras da calça jeans
e o tom bege das langeries...

Que na virada dediques flores à Iemanjá,
em nome de Krishna
e bebas champagne
ou aquela sidra, que brinda os amores e nos libera do universo do corpo, que habita
o mundo azul-mesquinho...

Que ames outro.
E muito. Denovo. E mais uma vez...
Que liberte-se do fantasma do autocontrole,
Que não mais temas trair ou ser traído - desapegue-se disso
em nome do viver de Clarice, que ultrapassa qualquer entendimento...

Que aposente-se de si quando bem entenderes
mas recrie-se... Sempre.
Que sejas honesto,
que saias de casa sem endereços...
sem adereços.

Que devagar andes, percebendo no olhar dos outros, si mesmo.
Mas andes bem devagar... pra poder catar as conchas dos caminhos pedregosos.
Que fortifiques os laços.
Que me ames
- meu maior defeito,

que derretas o "olhar dos outros" - teu mesmo.
E tu, que tanto gostas de arte,
que chegues antes da sua própria crítica, para que possas pintar um quadro
da solidão que lhe fortifica...
do cinza que mais lhe amanhece...

Que abras as cortinas dos lábios!...
e do coração.
Que perdoes o não que ouvistes e o que também lhe faltastes...
Que compres um CD do Tim e outro do Gilberto... Que ouças Betânia cantando Roberto...
Quanto ao louco que de puta lhe maldizes, dediques afeto...

Com saudosismos e batucadas me despeço,
enviando-lhe a leve tristeza de não poder estar contigo
nessa virada de esperanças e promessas pra um ano inteirinho...
Que 'refazendemos' 'caminhaduras'... Que nos encontremos...
a iniciar sempre a colheita do nosso tempo.

E lembre-se sempre que podemos chover... e chovemos!

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