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O lobo de mim

"Preciso atender o lobo, esquecer a pluma da boa vertigem, e a rejeição que há no medo de apanhar do meu senhor." (Patrícia Porto) Assim me encontro... Ao encontro desse lobo de mim que sabe cair sem ser atirando, que à incerteza do vento oferece o rosto, que não mais luta contra si... ... Encontrar numa viagem o meu lobo, que vive livre pelo instinto, d e aparadas garras escorpianas e vívido sonho de nirvana do dia mais feliz... Avante encontro à fera da alcatéia! Sem senhor cristão de escravizar e conduzir... ... Quebro então essas muralhas intransponíveis. Na solidão do si, sei que posso viver livre sentir pois à luz da lua cheia residirá sempre um olhar mareado, clareando o madrileño vivir, desse animal que vive em mim... ... Só de pensar quantos lobos engoli!...

Silêncio

Gasto maior parte do meu tempo no silêncio dos meus ponteiros e raciocínios. No silêncio dos meus amores. No silêncio da minha solidão. A mente não divaga. Já se vê livre... Não me contemplo quando releio e releio meus antigos escritos, tampouco me conheço. Eu sinto... Um sentimento sem clareza, nem objetivo. Sem alvo, nem origem. Sentimento puro e simples, cujo som é pano de fundo, e o hábito da escrita, teia de desculpas, mera ilusão de que um algo faço nesses momentos, quando me dedico ao nada de dentro... Nesse stop de vida, há quem diga que a truncadas e importantes conclusões eu chego; outros, que nesse meu olhar perdido, me perco. Mas não é nada disso. É à essência do nada que chego. E é só assim que me encontro. No encontro com o nada que desejo.

Camisola de seda branca

O desapego que carrego na vida Deus me deu de apego no coração e na camisola de seda branca, manchada ainda pelo seu amor numa noite chuvosa de setembro... Eu me lembro daquele inverno, hoje é janeiro. Rezo pra que amanhã não chova ontem, mais uma vez. Voltei então para o banheiro e saboneteei o amarelado, guardado, de uma vez. Finalmente me dei conta de que o branco do meu corpo, daquela cama, amarelou. O tempo passou e n´ele congelei. De amor? Fantasia? Teimosia? Não sei... De você, fico com a camisola. Verdadeiramente, agora, adeus!

Sancho Pança da minha vila

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Foi no ambiente informal do irresponsável que nos encontramos, desenganados. Dali que partiu o chamado, prontamente atendido por um pai cansado, predestinado à uma amiga-filha, aflita, entristecida... Talvez o que visse não fosse o errante cavaleiro andante, mas seu limitado escudeiro, um objetivo braço direito!... ... Fraquezas postas à mesa. O brinde ao desconhecido e o perdão de nossas existências ali, ao alcance da mão... ocupada pelo líquido sagrado dos desgarrados... ... Dois cúmplices. De um presente destroçado. Ao avesso, machucado, pesado pelas memórias de um passado inacabado... Foi quando me dei conta de que aqueles olhos cansados não nasceram mesmo para reagir, menos ainda para lamentar... pois que sabiam melhor do que ninguém os labirintos pelos quais é construída a vida. E era essa incapacidade que nele eu via. E amava... esse admirável talento com o qual se resignava e se acomodava impunemente a dor, instalando-se nela e dela, extraindo-lhe as forças

Eu não bebo cerveja

" (...) o coração dos alcóolatras - por motivo que Dr. nenhum conseguiu explicar - incha até ficar com o dobro do tamanho do coração humano civil, e nunca volta ao normal." David Foster Wallace, em "Infinite Jest" Bebo. E não bebo porque gosto de cerveja. Também não bebo para ficar bêbado. Nem bebo cerveja... Como um animal obsessivo, o que bebo são os minutos. A sua atenção. O stop. O instante que me assenhora... do tempo, de mim. Poderia redigir um tratado sobre o papel de socialização do álcool... Mais especificamente, da cerveja gelada. Do boteco. Do churrasco. Do domingo... Mas, contraditoriamente, tampouco bebo por isso. Bebo para me perder. Para servir. Para diluir o "isso". Perceber... sem o viés dos olhos e ouvidos. Eu não bebo cerveja.  Bebo a nossa conversa à toa . Nossa filosofia. Nossa esperança - choro e riso... A amizade. Que a sobriedade desfará no dia seguinte quando nos esbarrarmos no elevador do condomínio...  Bebo a

Refazendo 'caminhaduras'

Lhe desejo nesse maiúsculo e novo Ano Novo... flores nos cabelos, músicas de vento, ouvidos de concha, vestidos de cetim e sandálias de tecido... Que aposentes o couro cru dos sapatos, as amarras da calça jeans e o tom bege das langeries... Que na virada dediques flores à Iemanjá, em nome de Krishna e bebas champagne ou aquela sidra, que brinda os amores e nos libera do universo do corpo, que habita o mundo azul-mesquinho... Que ames outro. E muito. Denovo. E mais uma vez... Que liberte-se do fantasma do autocontrole, Que não mais temas trair ou ser traído - desapegue-se disso em nome do viver de Clarice, que ultrapassa qualquer entendimento... Que aposente-se de si quando bem entenderes mas recrie-se... Sempre. Que sejas honesto, que saias de casa sem endereços... sem adereços. Que devagar andes, percebendo no olhar dos outros, si mesmo. Mas andes bem devagar... pra poder catar as conchas dos caminhos pedregosos. Que fortifiques os laços. Que me ames - m

Ano novo

Uma nuvem só chove quando cansa de nuvear...       Precipito pobre da complexidade existencial da minha fome.   Nesse novo ano pós morte       - morte maia da ilusão dos anos de renovação, nesse tempo de reflexão ritual das revistas, não desejo amor, dinheiro ou saúde, o desejo único é o de embrutecer...        o espírito, o meu eu. colar em mim a alma pra curar essa angústia, desquerubinizar a dor e a volúpia, ser toda corpo para poder ser puro espírito, des-ziguezaguear os instintos... Eis que sendo o além-corpo, o que se vive é a fome de narciso na alma...        Que no tudo sentir que é        o nada segue sendo... Quem quer que seja, nunca saberei além da ideia. ...Talvez pudesse ser gente vivendo as baixezas da carne na aridez do pensamento.         Cessar-se-ia a fome sendo eu a própria comida? ...Os olhos nublados em vigília... Morrendo a redenção na ideia digerida...          O corpo é o sopro da vida.