Eu não bebo cerveja


" (...) o coração dos alcóolatras - por motivo que Dr. nenhum conseguiu explicar - incha até ficar com o dobro do tamanho do coração humano civil, e nunca volta ao normal." David Foster Wallace, em "Infinite Jest"




Bebo. E não bebo porque gosto de cerveja. Também não bebo para ficar bêbado. Nem bebo cerveja...
Como um animal obsessivo, o que bebo são os minutos. A sua atenção. O stop. O instante que me assenhora... do tempo, de mim.

Poderia redigir um tratado sobre o papel de socialização do álcool... Mais especificamente, da cerveja gelada. Do boteco. Do churrasco. Do domingo... Mas, contraditoriamente, tampouco bebo por isso.
Bebo para me perder. Para servir. Para diluir o "isso". Perceber... sem o viés dos olhos e ouvidos.

Eu não bebo cerveja. 
Bebo a nossa conversa à toa . Nossa filosofia. Nossa esperança - choro e riso... A amizade. Que a sobriedade desfará no dia seguinte quando nos esbarrarmos no elevador do condomínio... 
Bebo a indefinição. O não tempo...

É hipócrita aquele que diz que nasceu gostando do gosto da cerveja. Do beijo de cerveja. Que bebe porque aprecia...
Para beber é preciso escola. Subjetividade. Desapego. E porque não? Uma certa dose de imoralidade...

Repito. Eu não bebo cerveja! Mas os lábios de quem eu beijo precisam ter gosto de cerveja!...
Porque é no álcool que me torno gente. Desacelero. Não trabalho. Não estudo. Não existo. 
Penso. Sinto. Beijo...
Bebo...

Comentários

  1. muito bom!!! o blog...as poesias!! parabens

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    1. Que honra pela visita! Tome mais um copo... de chá, de poesias... Muito obrigada!

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