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Oca de promessas

 Rasgou-se o véu sapos arranha-céus da boca. Mas não vou cuspir o único verbo do vazio que engendra a mim mesma.  Ao léu  cada gota entornada na sua boca.  Eu ali imprensada nas pedras...  Silêncio duro de fel nos sapatos rasos que calçavam seus pés na minha porta,  oca de promessas. 

Sol poente

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 Desenredo-me,  aposento a navalha que divide dois cumes simétricos, opostos.  Caminho no meio, entre abismos de beleza estonteante. Não busco a felicidade,  não fujo da dor, existo para além dos cactos do deserto.  Vida sinuosa, contínua, segundo a segundo, respiro, apenas existo, porque foi assim me fizeram,  foi assim que me tornei é assim que me transformo cada dia mais minha cada dia algo que me escapa também. já não sei mais de nada, seguro apenas nas mãos da vida, sempre potente, indecifrável, nem bom, nem mau,  mas o meu e o seu tem. Aquilo que não compreendo,  eu aceito também,  porque minha vontade não basta para decifrar ninguém.  Ao longe, ainda vejo o laranja do sol poente e o velho desejo de ser dois.  Mas não permito-me parar agora Não permito-me demorar nos velhos fios farpados  que compuseram meu enredo mais alguém.  Não sei quando passa, mas eu passo,  cada dia mais nua,  cada dia mais crua, passo-a-passo.  Algo, porém, me guia nessa estrada-que-não-sei, nem bússola,

A vida é um zás

 Certa feita, escutei uma metáfora interessante em um momento muito difícil da minha vida: somos como os aviões, o piloto e os passageiros e precisamos vez ou outra trocar o motor do avião em pleno vôo. Essa é a reforma íntima. A vida é o vôo.  Mas eu sou gente, e gente como faz?  Eu acho que gente ama.  Quando atravessam tempestades, aeronaves não seguram as mãos umas das outras... Os bichos, na dor, silenciam e reunem-se em manadas, alcateias, clãs. Ser humano é diferente. Comunica-se? Ilude-se em exprimir-se em palavras, mas ouvidos não ouvem. Ser humano: ser-como-os-loucos. De que se alimentam?, como vivem quando lidam com as palavras presas e soltas? Vive-se então no vácuo e as relações são de uma natureza que desconheço e que mesmo assim se reune. Conversam em fusos horários distintos. Eu persigo jornada das 100 razões da vida que não subsiste: é desejo de pássaro em coração de mulher.   Hoje despertei, lavei o rosto, tomei meu café amargo, alimentei o meu cão de remédios e carin

Iroko

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 Não há amor que não cure Passa ferro, brasa, frio, Ausência, presença, vontade Que finda. O último suspiro importa Porque vem da natureza todo fruto que se colhe. Permaneço é na teimosia de semente Que quando finda, Se finda, Cumpre seu destino. Gera novo começo. Caminha. 

Emperolou

 Amor, Se tem algo que levo a sério é a alquimia dor-poesia, mas a dor assim tecida, tua, minha, enredo dissonante que findou. Através de você, ensinei-me a cruzar mangues obscuros, encarei os olhos pretos, fundos do medo, um dente podre caiu em minhas mãos. Ei, não ou-viu?  E pensar que prometeu-me tanta água salgada... mas das impurezas ardidas, ocultas, uma pérola se encriou..  Despejos seus, o escuro meu... Frui-dor desgarrou. Agora vejo as paredes cor de rosas sadias, sem dejetos ou animais peçonhentos. Sem mais,  Dor. P.S.:  Milagre do tempo, Om do Universo,  Gera vida, Gera Amor.
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Crocodilo

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Ironicamente, eu fui a primeira a procurar pelo senhor Roberto Suzano Ferraz no Hospital Geral. Provavelmente eu era o primeiro A de sua lista telefônica para o caso de uma chamada de emergência. – Sim, eu sou filha dele – disse com a voz trêmula ao desconhecido, que me passava o endereço do hospital para onde a ambulância seguiria. A primeira a chegar e a última a ouvir seus batimentos cardíacos. – Filha, guarde uma coisa no seu coração. É muito importante saber como chegar e como sair, em tudo na vida. A forma como você começa determina muito a forma em que vai viver depois. –   Essas foram suas últimas palavras após o acidente. Eu ainda tinha quinze anos. O que ele fez por merecer para sair da vida assim? Teria ele entrado na vida também de supetão? Acho que não. Era um homem ponderado demais, cindido demais, que manteve dois relacionamentos amorosos em paralelo mais por covardia do que por paixão e porque minha mãe nunca foi mulher de se deixar para trás. Ela foi a primeira de su