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Carta à hipocrisia

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Quero um dia poder ser mãe de menina, flor fina, autêntica, de sonhos e de guerra, para poder, ao menos nela, desconstruir toda a opressão desse mundo... A ela, os olhos cinzas do sábio bem que dirão... - Estás segura de que queres pisar nesse mundo, flor? Sujo, solitário, prepotente, machista, aniquilador? Há de sofrer, há de chorar, há de morrer, dia a dia. Ao que bem dirá... - Não, meu pai, mas é preciso. E ela virá... No raio de Iansã, sem sonhos de poder, em seu coração, vivo, "rojo". Há de trazer o fogo dos céus e reinventar-se Liberdade. E essa notícia que agora compartilho por essas teclas geladas não passará de uma terra muito distante... memória de um mundo bem mais negro e infértil que o seu. "Fran, Meu celular acabou de apitar avisando uma mensagem nova no Whatsapp. Era um vídeo de 13 segundos em que você aparece fazendo um boquete e perguntando ao câmera: “quer meu c*zinho apertadinho?” – fazendo um sinal de OK. Eu deveria ter achado graça, caído

Maria, por favor

Deixei de ser eu mesma quando, de meus pais, me veio o significante... e a responsabilidade para ser impunemente algo só em minhas metamorfoses com o casulo de meu nome. Quanto ao destino, havia de ser eu, para sempre eu, o significado de um significante... Não fosse Luma e não mais carregasse nos ombros duas... pessoas de meus eternos tios LU-cio e MA-rcos, não mais dividir-me-ia trabalho e boemia, poesia e monografia, letras e economia, amor e razão... Talvez. Quem sabe devesse ser Suma, união, ou Brisa, à mercê do tempo, das contingências do clima e do vento... Ao menos pudesse ser obra inacabada e xará de quem ainda conta as horas e não juntou os pés... quiçá fosse, mais claro, transição. E assim, transcorrer... Por favor. Chame-me Maria, seu leitor! Deixe-me ser...

Eu não ando só

(Ando com Bethânia, em minha "Carta de Amor") Não meche comigo. Eu não ando só. Em mim, a voz do mundo. O grito, o sussurro, o mal e a cura. Não caio no canto de Ossanha. Talho a minha armadura pra logo logo ser de amar melhor. A fome é tanta... Me conecto. Me camuflo. Disperso palavras. Minha alma é nascente não concatenada, des-identificada, pedra bruta. Toda reticências... Sou rizoma. Raiz, broto, flor, folha, vida e morte. Fruto, natura. Quem já escutou o riso de Oxum e a música de Iansã não voltará ao começo do próprio ciclo, fluirá semeadura nesse tempo, nunquinha nosso. Cinco almas acalentadas, aninhadas de corpo no verde sano do Sana que sana dores. A quintessência, a fina flor de um amor transcendental. A água doce que nasce, dança e morre lago, no mesmo tempo e no mesmo espaço, me ensinou a reciclar os fluidos de mim, a cuidar, curar, velar a energia dos meus amigos e dos amigos ao contrário! Não meche comigo. Eu não ando só. Iemanjá

Tempurá de tempo

Perdi muito tempo lutando contra o tempo, gastei forças para simplesmente ter forças, e tenho visto sempre que são só as contingências e circunstâncias que constroem uma pessoa. Um dia não mais quis ser coisa, mas para além de sujeito, desalojei meu Deus fraco e fui de mim mesma impostora por muito querer ser algo... Nada fui senão ser angustiado... Hoje valorizo como nunca toda a minha falta de grana, de apoio, de limite, de escudo e de cultura... tudo aquilo que me limita, porque é essa matéria, que constantemente me chuta da barriga de minha mãe, que origina a minha necessidade de guerrear na vida, o meu desencaixe porém sem gaiola e toda a fome que sinto por idéias e sentidos que dignificam minha velha busca torta... Um dia procurei uma analista para ser de mim minha própria escultora... Estúpida! Na vida o que é preciso é escola para ser o que já se é. Não posso ser outra, nem aquela que já fui outrora...  porque tudo, exatamente tudo que tracei, planejei, alinhavei, ar

Lavapiés

É preciso ver a sujeira das ruas, a podridão do consumo, a oferta É preciso ser mulher e sentir-se comida pela tradição de Maomé num recanto árabe dessa multidão cosmopolita, que reclama seu espaço e um cigarro numa dessas noites quaisquer É preciso conhecer a fundo a viagem desses becos e seus castelos de seringa e fumo, o peso do tempo que um dia lhe reclama o rosto É preciso reconhecer-se parte desse mau cheiro, pegar-se mentindo, porque uma hora a cidade vai pra sua casa e lá estás nessa jornada, ao lado das putas, dos drogados, bêbados, pedintes, imigrantes, bate-carteiras, malabaristas, sem documentos... E te vestes o mesmo andar, o mesmo tom e, com o tempo, temes menos, incorporas... pois vês que nada possuis além de um si mesmo que, dia a dia, enfrenta o espelho e conhece o rosto da solidão... E escutas no bareco que Seu Jorge foi acertar as contas com o "chifrudo"; se planeja a ocupação, que lhe promete uma melhor cama e um balcão que compartirás com o compan

Cuitelinho de Maria Marta

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... E cantava como quem caminha ao meio fio  como se qualquer vacilo  profanasse o canto divino escorrido pela sua boca. Ali, dela, se ausentava nela o que podía como se fôra ela mesma um obstáculo furtivo da sua música que nascia  da mente de Chico na extensão do corpo dela anímico, trevo de catorze folhas.

Irmã de rapina

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(Fonte: www.revistamundoeco.com.br) Um belo dia escolheu a coruja para sua realidade anímica, hipótese que, de começo, rechacei por achar que o signo fôra corrompido pelo nosso vulgar sentido de fidelidade; na verdade o que temia eram suas poderosas asas de rapina, a velar nessas escuras madrugadas, sozinha. Existe sempre algo de Narciso no amor que a gente sente, na proteção que dedicamos através dos braços os quais não temos... que nos torna heróis da gente mesmo... E foi assim, sem sentir, que me instalei no posto de vigília e fui eu mesma a mãe-rapina, a cuidar-te de qualquer precoce voo largo, distante, perigoso, para que nunca portastes os arranhões tais quais os me criaram a vida. Mas foi inútil, pois que criei uma teimosa ave, mais sagaz nos furtos de si e no engenho que eu mesma... Arranquei-me as penas! Do seu mítico nome, hoje, sabedoria eu vejo, o maior dos apelos... E naquele ímpeto, que no homem que desassume um posto é egoísmo e no animal que voa, natural, que