Tempurá de tempo


Perdi muito tempo lutando contra o tempo, gastei forças para simplesmente ter forças, e tenho visto sempre que são só as contingências e circunstâncias que constroem uma pessoa.
Um dia não mais quis ser coisa, mas para além de sujeito, desalojei meu Deus fraco e fui de mim mesma impostora por muito querer ser algo... Nada fui senão ser angustiado...
Hoje valorizo como nunca toda a minha falta de grana, de apoio, de limite, de escudo e de cultura... tudo aquilo que me limita, porque é essa matéria, que constantemente me chuta da barriga de minha mãe, que origina a minha necessidade de guerrear na vida, o meu desencaixe porém sem gaiola e toda a fome que sinto por idéias e sentidos que dignificam minha velha busca torta...
Um dia procurei uma analista para ser de mim minha própria escultora... Estúpida! Na vida o que é preciso é escola para ser o que já se é. Não posso ser outra, nem aquela que já fui outrora... 
porque tudo, exatamente tudo que tracei, planejei, alinhavei, arrematei, se desfez ventania... Chorei. 
Que lhe soe determinista, mas com toda a minha histérica rebeldia, me rendi: o ser nasce para tornar-se o que já é.
E foi assim que me integrei à minha parte desconhecida, quando eliminei a primeira erva daninha de minha vida. Me matei, me morri, sendo mais do que nunca a mesma Luma agora temperada pelo tempo, com novos ares, vícios e cores, pois que viver é um processo, e esbofeteante, só para nos ensinar a florir... 
Nada do que tenho, creio e ofereço me pertence, muito menos meus escritos e amores. Minha cria me transpassa e, posto que nela alguém se identifique, já se esvaziou de mim...
Quisera um dia poder desinflar o meu ego até o limite, para ser só um rosto desconhecido a despeito de qualquer edifício... Mas sei que quando alcançar essa fonte, vou beber da minha paz.
E nesse contratempo, minha recusa é tracejar futuro aonde a matéria é presença.
Ainda sigo no malabarismo da sobrevivência, e esvaziando a mente, e enchendo de coisas finas o coração... no aguardo breve de quem simplesmente me pergunte o que de minha vida eu faço, para que com todo aquele meu orgulho já amarelado, lhe conteste, tranquilamente:
- Pois que vivo, meu caro!

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