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Cuitelinho de Maria Marta

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... E cantava como quem caminha ao meio fio  como se qualquer vacilo  profanasse o canto divino escorrido pela sua boca. Ali, dela, se ausentava nela o que podía como se fôra ela mesma um obstáculo furtivo da sua música que nascia  da mente de Chico na extensão do corpo dela anímico, trevo de catorze folhas.

Irmã de rapina

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(Fonte: www.revistamundoeco.com.br) Um belo dia escolheu a coruja para sua realidade anímica, hipótese que, de começo, rechacei por achar que o signo fôra corrompido pelo nosso vulgar sentido de fidelidade; na verdade o que temia eram suas poderosas asas de rapina, a velar nessas escuras madrugadas, sozinha. Existe sempre algo de Narciso no amor que a gente sente, na proteção que dedicamos através dos braços os quais não temos... que nos torna heróis da gente mesmo... E foi assim, sem sentir, que me instalei no posto de vigília e fui eu mesma a mãe-rapina, a cuidar-te de qualquer precoce voo largo, distante, perigoso, para que nunca portastes os arranhões tais quais os me criaram a vida. Mas foi inútil, pois que criei uma teimosa ave, mais sagaz nos furtos de si e no engenho que eu mesma... Arranquei-me as penas! Do seu mítico nome, hoje, sabedoria eu vejo, o maior dos apelos... E naquele ímpeto, que no homem que desassume um posto é egoísmo e no animal que voa, natural, que

Tabacalera

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(José Manuel Ballester, exposição"Bosques de Luz", em La Tabacalera) Hoje, em vaguidão, fui a uma exposição de fotografia, numa antiga fábrica de tabacos em Lavapiés - o "Bronx" cosmopolita de Madrid. Me mudei para ali porque queria entender a essência da solidão.  Batuques batidos em ecos espaçados na outra entrada, som de goteiras nos velhos canos... Algo precisou rejuvenescer-se ali...  Mas nada tinha de macabro, nada tinha de "outro mundo" no ranger da madeira condicionada aos meus passos, aquele era só o meu mundo, de presenças "curiosas", efêmeras e congeladas como a linguagem, que só se degela no próprio pensar. Não nasci com o dom de brincar com as palavras, neologizar... Nesse ínterim, encontrei-me a mim, a caminho da natureza morta visível, na linguagem em carne composta, para captar aquele mero estalo, sorrateiro, nascente, primeira gota de vida que ainda não endureceu corrompida pelos signos... Nesse cenário penetran

Economia, necessidade subjetiva

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"Lo que separa el "pensamiento" de un Balzac del de un Flaubert es una variación de escuela; lo que opone sus escrituras es una ruptura social, en el instante mismo en que dos estructuras económicas se imbrican, arrastrando en su articulación cambios decisivos de mentalidad y de conciencia." (Barthes, en "El grado cero de la escritura") Há quatro anos atrás, cheia de sonhos nas costas e indecisão, escolhi o curso de economia, sem saber ao certo como chegar, com tanta materialidade, a um mundo essencial. Como dizia a minha gente, por que não o universo das letras, a história, a arte? Mas lá existia obstinação. Uma necessidade subjetiva de firmar-me, focar a visão daquele olhar perdido e solitário que trago comigo. A busca por libertação entre as cadeias de conceitos rasos, fatalistas e utilitários... Rebelião. Revolução, que casa perfeitamente com as minhas metamorfoses e contradição. Um caminho inconsciente de um ser párea, para sempre párea... Des

Desmundo

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rio intransponível, que se conecta comigo e me separa cada vez mais do mundo... Desmundo. Se em ti não mergulho, me alieno de mim mesmo desconheço, coisifico.  Se em ti me perco, me perco... "The sick child", Edvard Munch

Correspondência de botequim

Que Nietzsche, que Freud, que Marx, Deus, feminismo, razão...! Saudade mesmo da maior filosofia que já conheci... contigo... a do botequim! Pai, tu não sabe o quão precária é a socialização dos bares de Madri! Não existe o outro do discurso, não existe o "chorinho", a(s) "saidera"(s), o papo à toa, os minutos que ligam os sentidos, NÃO EXISTEM OLHOS NUS! Se chega, se senta, se bebe, se come, se traz a conta, se vai... vazio como aquele que sai de casa em busca de um algo que preencha sua existência para enfim poder dormir, acordar e saber-se vivo... Na egoica e espanhola sedução entre tortilha, caña e pimentão à qual me submeto - porque necessito estar sempre à prova de mim mesmo - retiro-me acomodada à minha resignação, até as primeiras linhas do meu caderninho de remendo: "É preciso ser muito forte para poder poder ser fraco"... Eu costumava dizer que minha alma era negra, ou multicolor, mas a cada dia que passa a percebo mais verde e amarela, mais

Entre o Atlântico e o Mediterrâneo

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Por Luana Laux Pagar um bilhete aéreo nunca é pagar caro. Clichês nunca me serviram tanto, mas viajar é, de fato, violar nossas placas que alardeiam "cuidado!"; é um situar-se camadas à dentro; encontrar-se odiosa e amorosamente com a gente mesmo; rever e, quem sabe, superar fantasmas velhos só porque os contextos são novos... Entre o Atlântico e o Mediterrâneo, descobri o quanto amo minha inquietude e a autodestruição do meu pensamento... Porque é preciso brigar muito consigo mesmo e descobrir-se para sempre vilão para poder ser "o herói" das situações embaraçosas; pois que "os ruins" são os bons de todos os dias, entre a família e os amigos, entre os colegas e o patrão... Tão potencialmente atrozes, mas tão coitados que incapazes de qualquer autorreflexão... Aprendi que os senhores do seu tempo são os que mais "perdem" tempo; que é preciso ser muito forte para poder ser fraco; que as pessoas que mais devemos ter medo são as pessoas