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Acontecimento

... hoje me encontrou não por acaso, foi minh´alma Quem chamou ... hoje me encontrou um gosto de selva, um misto de amor-seiva viva ardido num fogo ceifador ... hoje me encontrou um lampejo de luz, um farol da baía, sentimento profundo...grande que em mim se ajanelou... ...abriu portas, correntes, um navio negreiro de recordações que aquela canção um dia ecoou ... hoje me encontrou você com a mesma ginga, aquele velho sorriso, mesmo olhar-abraço sedutor ... hoje me encontrou o passado no presente eu descabelada... tudo em mim se revirou... ... meu baú de  memórias e nostalgias - com quê permissão? - minh´alma transbordou... uma Pérola negra joia rara... que onda do mar rebentou ... hoje me encontrou foi a vida O meu seio pequeno quase que não suportou! ... hoje me encontrou foi Janaína... senhora das marés de minha vida A Pérola do Mar hoje uma peça me pregou.

Cachoeira

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... Ali onde elas brincavam me demorei, admirei... Duas crianças sendo crianças, inventando brincadeiras, construindo histórias de bonecos e super-heróis... Nessa manhã um menino de 6 anos tornou-me milionária. Talvez a melhor palavra seja banqueira... Banqueira dos tesouros da Natureza. Com a simplicidade e pureza típica da idade, catou papel, lápis, tesoura, giz e caneta e criou cédulas e moedas para resolver o problema da falta de dinheiro na imaginária feira de frutas e produtos fantásticos. Disse-me, ainda, com toda a convicção e sabedoria que daquele momento em diante eu seria muito muito rica, "uma teacher milionária", mas logo percebeu que faltava algo: um diamante reluzente. Então voltou para o "escritório" e preparou, com seu sorriso banguela, mais esta riqueza... Guardei orgulhosa. Guardei tudo aquilo no coração e já não tenho d(u/í)vidas... Não fosse a vida, jamais me imaginaria em tão fecundo ofício... de ser milionária de sorriso

Circunvoluções

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Hoje eu padeço porque calo o fluxo de alma, tamanho padecer que atirei no mar uma pedra da garganta. Pedra vi ressoar por cinquenta metros de circunferência. Da mesma maneira que observei a respiração invisível dos peixes pela superfície, suas borbulhas, coitos, partos e a circunferência projetada, quis abrir uma concha sofrida no núcleo da minha existência. Pensando bem na concha, recordei de algumas pegadas do passado. Me lembrei de um louco, doido varrido, que cantava desafinado, alto e descompassado, desgrenhado, besta o necessário para ser feliz nessas circunvoluções do Tempo, ele costumava ser meu namorado. De algum modo raro, sempre fui dessas de atrair loucos e assumir deles as consequências. E foi a essa imagem que atirei pedra, porque pedra eu não sabia declamar. Eu tinha ido para a beira do rio para abrir-lhe a minha concha, mas acabei lhe atirando pedras e engoli a pérola, logo o mar ficou descompassado nas voltas do vai-não vai, nas voltas do foi que vem, do foi q

Com o perdão da Palavra

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A poesia tem que merecê-la e há de encontrar-se pronta quando as Musas tocarem-lhe o ombro, quando o divino sopro tocar-lhe a face para que toques de cumprir sua sagrada tarefa. E o deliciar-se da Poesia que se escreve deve ser circunscrita ao prazer de ser levada, conduzida pela pena (duras penas!...) Poesia, hei de escrever de hoje em diante, sempre com letra maiúscula, porque exprime um estado de graça, um estado de calma, um estado de alma; do ser, uma ausência-presença. Quem fui eu e por que caminhos andei para maldizer a palavra, o pensamento e minha Musa Rendadeira? Pois que fui ingrata e, dela, escarnecida. Com o perdão da Palavra, Ela, rarefeita, aprisionou-me o peito e me vi a pescá-la com esforço, a perscrutar-lhe o pensamento para mergulhar em suas águas reparadoras e libertar meus prisioneiros do Calabouço do Silêncio. Hoje escrevo para ajoelhar-me ao Divino-que-tece desde as primeiras veias ao abraço frio da terra, Àquele que, Sendo, m

Os ensinos de uma criança de 7

Para Ana Clara Maia, uma amiga encantada. Hoje o seu dente caiu e eu pude vivenciar o momento derradeiro,  o medo, aquela dor agudinha, o sangue,  a coragem, a bravura dos sonhos de criança  numa pequena morte que é pura expressão da vida:  passagem, semelhante aquela que você queria atravessar num mar de instabilidade inexplicável  dentro de um pequeno-grande coração de um infante... Você sabe que já bem-te-vi muito bravo,  que já bem-te-vi insistente,  que já bem-te-vi ilhado... Hoje, porém, o seu dente caiu e a passagem foi alegre. Teve festa no céu.  Com a fada dos dentes, eu recebi este tesouro seu: - Ai, se eu tivesse ainda um coração de criança,  que sente saudades,  mas vê que a passagem é viagem e esperança,  alegria e mistério,  rota de fuga  e vida mais viva nas sete cores do Universo! 

Ponte para Pasárgada

Galo cantou no orvalho da madrugada. Poesia chorou nos recônditos de mim. Libertei um prisioneiro às seis horas da tarde, nesse tempo misterioso que não é dia, que não é noite, que é o vazio dos sentidos - interlúdio, passagem o silêncio de Deus. Nessa hora, as palavras não conseguem velejar estão em vigília num tempo morto. Sinto o peso do nada. Ele nada, tu nadas, eu nada posso saber do mar. Quem é que sabe nadar? Perscruto o tempo - aperto o botão de rosa para saber do que dela sai. Machuco a rosa e nada de metafísico descubro no nada. Quisera me espremer para desvelar uma palavra... mas o nada, o nada o nada o nada. nada de chão, nada de cão, nada de pão, nada de beijo, nada de água. Olho pro vento, quisera conhecer as indagações do tempo... mas ele também não é nada. Deus fez o homem que cria que sonha que pensa e filoso-fia, rei de uma angústia desconhecida, - não pode valer-se é de nada!

Indagações de uma viúva negra

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Uma cantiga de infância se repete e se repete na minha cabeça. É a música da Dona Aranha. A tradição indígena a conhece por vó aranha, mas pra mim ela é uma viúva cheia de sex appeal, a sinistra viúva negra.  Sei que quando adormeço, ela vela meu sonho - presença teimosa e insistente, pra me relembrar daquilo que quero esquecer, ou daquilo que sou? É verdade que matei todos os homens que se relacionaram comigo. Sou eu que teço todas as realidades e prendo o infeliz, mas acho sempre que sou eu a presa. Depois eu engulo, mato e calo, dentro de mim para que não se repita o trágico fim da minha infância.  Perguntei-me com coragem ontem antes de dormir... o que será que está por detrás do instinto da viúva negra?, por que ela re-produz e re-produz esse ato criativo e assassino sem cessar? Ela deve ter tido o mesmo pai e a mesma mãe que eu... Mas eu mato amor-tecida, ou amor-teço para matar.  As aranhas são escritoras, assim como eu, e não param de criar e tecer armadilhas.