Com o perdão da Palavra



A poesia tem que merecê-la
e há de encontrar-se pronta quando as Musas tocarem-lhe o ombro,
quando o divino sopro tocar-lhe a face
para que toques de cumprir sua sagrada tarefa.

E o deliciar-se da Poesia que se escreve
deve ser circunscrita ao prazer de ser levada,
conduzida pela pena
(duras penas!...)

Poesia, hei de escrever de hoje em diante,
sempre com letra maiúscula, porque exprime um estado de graça,
um estado de calma,
um estado de alma; do ser, uma ausência-presença.

Quem fui eu e por que caminhos andei
para maldizer a palavra,
o pensamento
e minha Musa Rendadeira?

Pois que fui ingrata e,
dela, escarnecida.
Com o perdão da Palavra,
Ela, rarefeita, aprisionou-me o peito

e me vi a pescá-la com esforço,
a perscrutar-lhe o pensamento
para mergulhar em suas águas reparadoras
e libertar meus prisioneiros do Calabouço do Silêncio.

Hoje escrevo para ajoelhar-me ao Divino-que-tece
desde as primeiras veias
ao abraço frio da terra,
Àquele que, Sendo, me ensina

a expressar tudo aquilo desconheço
e se manifesta
a partir do NADA:
as palavras.

Assim encriou-se o Universo.

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