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Desmundo

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rio intransponível, que se conecta comigo e me separa cada vez mais do mundo... Desmundo. Se em ti não mergulho, me alieno de mim mesmo desconheço, coisifico.  Se em ti me perco, me perco... "The sick child", Edvard Munch

Correspondência de botequim

Que Nietzsche, que Freud, que Marx, Deus, feminismo, razão...! Saudade mesmo da maior filosofia que já conheci... contigo... a do botequim! Pai, tu não sabe o quão precária é a socialização dos bares de Madri! Não existe o outro do discurso, não existe o "chorinho", a(s) "saidera"(s), o papo à toa, os minutos que ligam os sentidos, NÃO EXISTEM OLHOS NUS! Se chega, se senta, se bebe, se come, se traz a conta, se vai... vazio como aquele que sai de casa em busca de um algo que preencha sua existência para enfim poder dormir, acordar e saber-se vivo... Na egoica e espanhola sedução entre tortilha, caña e pimentão à qual me submeto - porque necessito estar sempre à prova de mim mesmo - retiro-me acomodada à minha resignação, até as primeiras linhas do meu caderninho de remendo: "É preciso ser muito forte para poder poder ser fraco"... Eu costumava dizer que minha alma era negra, ou multicolor, mas a cada dia que passa a percebo mais verde e amarela, mais

Entre o Atlântico e o Mediterrâneo

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Por Luana Laux Pagar um bilhete aéreo nunca é pagar caro. Clichês nunca me serviram tanto, mas viajar é, de fato, violar nossas placas que alardeiam "cuidado!"; é um situar-se camadas à dentro; encontrar-se odiosa e amorosamente com a gente mesmo; rever e, quem sabe, superar fantasmas velhos só porque os contextos são novos... Entre o Atlântico e o Mediterrâneo, descobri o quanto amo minha inquietude e a autodestruição do meu pensamento... Porque é preciso brigar muito consigo mesmo e descobrir-se para sempre vilão para poder ser "o herói" das situações embaraçosas; pois que "os ruins" são os bons de todos os dias, entre a família e os amigos, entre os colegas e o patrão... Tão potencialmente atrozes, mas tão coitados que incapazes de qualquer autorreflexão... Aprendi que os senhores do seu tempo são os que mais "perdem" tempo; que é preciso ser muito forte para poder ser fraco; que as pessoas que mais devemos ter medo são as pessoas

Reconheço, amanheço.

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Amanhecer é preciso. Reconheço-me n´água, como Narciso,  e nela somos cúmplices. Depois, sim, cumpro meu papel ao mundo... Luma Espíndola

Aqui jazz um jazz

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O jazz é o baile, a corporalidade, a expressão da música que nasce e vive aqui dentro.. Meus sentimentos, tão sentidos, no mais gris das tardes, flutuam em movimento... Independentes, impunemente... Meu bom senhor, tom maior, por favor! A fronteira do eu já se foi. No epitáfio de mim, claro se fará notar... Aqui jazz um jazz.

Amor de canela

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Dela, a memória mais pura é a olfativa, em forma de presente, nostálgica e viva. A memória mais terna que tinha daquela mulher tinha rastro de corpo. Na verdade, era puro corpo. Aroma, paladar e cor. Senhora que exalava mel, de poucas palavras. O que nos ligava não eram confidências, apelos ou demandas, mas o silêncio das tardes de biscoito amanteigado com chá de maçã. O leite com canela, os peixes do aquário... A contemplação. O cheiro de alecrim da comida, nos dedos, cabelos... Sua alma tinha esse frescor doce e cítrico que a gente precisa tragar de uma vez. Amo aquela mulher sem por quês... Um amor que vem de pele, do calor das mãos, do suspiro externo e alheio que sinto vibrar no peito, terra fresca. A avó e a neta... Duas almas de oceano fundo, claro e calmo, que se cruzam e se afastam, com as brisas do uno passado, velho e adocicado, e promessas fluidas de um futuro cada vez mais entrelaçado, talhado no pingente da neta, broto de jasmin... A vida é o outro lado e o no

Questão de gênero

I   - Luiza ... Falava de si em terceira pessoa. Escrevia só porque morria, para identificar o maremoto que dentro de si cabia. Seu orgulho era sentir o que sentia... Senhora de mãos escorregadias. Nada lhe pertencia. Apegou-se, então, aos laços presentes e invisíveis que constituía, e ao seu caderninho de remendos e poesia. Assim se dividia: a mulher e a menina. Há quem diga que era triste, há quem diga que de tanta felicidade Luiza luzia... Dependia do olhar de quem a via? Especulo que era prolixa. E via-se doente como o mundo de jornais expressos e internet informativa, só porque falava em tópicos, como quem quer desnudar-se, desmanchar-se, sem trazer incômodos. Respirava com cuidado. Já lhe haviam dito que carregava consigo algo intimidador. Talvez porque não perdia a mania de ir até o último gole, expondo-se a maiores danos na vida, e há sempre um sadismo na dor que se sente. Ter um corpo era por si só, um desafio. Por isso, a cada queda, mais força e fé ganhava na vida