Postagens

Sensibilidade

A  sensibilidade é a minha puta triste que, dentro de mim, me acaricia e com os meus olhares, em mim chora, todos os dias...

A moça tinha um cílio perdido no nariz...

... Mmm... Mas só pode fazer um pedido? Bem... eu queria... ter o poder de inventar palavras e um coração! Por que o meu já quase saiu pela boca um monte de vezes... Juro! Eu sinto... Será que a gente consegue trocar, moça? Mamãe disse que no mundo se vende tanta coisa... casa, comida, cachorro e promessa de dinheiro. Por que eu não posso trocar meu coração? Mamãe vende promessas o dia todo, pra muita gente... Ela fica muito no computador, não me olha muito e eu só fico imaginando ela entrando numa bolsa rosa, todos os dias, pra vender promessas pras pessoas... Ela diz que trabalha na bolsa de valores, mas não me promete nada nunca... O que são mesmo valores? Ei, senhora, por que a gente não pode trocar o coração? Tem dias que ele me aperta, me sufoca e até parece que vai me matar... Eu não gosto dele não! ... Ei! Ei! Moça! ...

É o muro-mundo...

Não me caibo em projetos Não nasci pra portar metas. Me conte isso, todavia! Nesse mundo-dobradiça só me cabem os sonhos só me resta o destino que um quase-Deus oferece com escárnio. Se meu mundo é dobradiço Por que eu vim com desejos tão intensos? Não tenho o direito de desejar Não posso fixar a visão. Meu olhar é de vagar, é sem chão. Mas por que acontece de eu fixar a visão? Eu sou... um corpo de tentáculos colantes sem encaixes num muro branco, tateando... É o muro-mundo que separa divisão que sequer acolhe... Bem sabes... não tenho fixação, mas cadê a minha visão? Esqueça-se, ora, pois! Você é a sua ilusão.

Mentira torta

Imagem
(Por bobbycaputo) Eu sinto no tato o que chove na alma. Sinto no tato o que me toca e o que não toca. Meu desejo de fundir é a essência dessa minha vida que levo torta...  Sei quem sou, mas as limitações das palavras me cortam... Elas não nos explicam, nos tornam...  Em verdade, não sei quem sou, uma língua que toca... algo de flor... Não posso dizer quem eu sou - mais uma mentira torta. Eu sou o que sinto. Sinto que sou! Receptáculo de todas as cores, sons e afirmações, sou o que sinto nos lábios...  Que me molde o vento que me baila! Eu só sei viver dançando...

À pequena senhora dos meus sonhos...

Ontem conheci uma menininha de olhar sonhador, sozinha, que luzia... Não sabia que era sol, iluminava sem saber, se sentindo sem órbita por aí... Tão pequenina e tão senhora, do centralizar e luzir A pequena refletia amor, mas só porque a escuridão era sua casa. Sua dor era só, e quanto mais brilhava mais o seu calor repelia... Sem afeto, de devaneios calados e poder de criação tolhido, por ninguém foi parida, por ninguém foi gerada. Sendo assim, a menina iluminava... E sentia, com o calor de suas entranhas vivas. Artista e artesã, esculpia o mundo em sua brincadeira de criança, nesses piques de papel unia para si o amor do mundo... pondo o máximo de vida naquilo que tocava... Desse jeito vivia sua infinitude de astro, sem horas, nem minutos... Perdida no espaço. Sua vida era o alheio, Abduzida sempre ela estava, a falar de amor, que dava, mas não encontrava nunca encontrava, frágil se desamparava... Essa menina sem tempo, sem enquadramento, sem limite Nunc

Para João Marítimo

João, Preciso lhe dizer que na outra semana resolvi abrir o armário e, finalmente, encaixotar tudo. A bailarina de cordas, as embalagens de chocolate, os bilhetes, o vaso indiano e as poucas coisas que constituíram o nosso lar. Nada tinha poeira. Minha gaveta de poesias ainda grita e eu ainda me nego a tocá-la. Preciso dizer que não trago mais lágrimas nos olhos, nem malas nas mãos. Joana ainda me chama para cruzar a Rio-Santos e o Pedro já me pediu a mão. Tenho cuidado de tudo. Das crianças, dos entulhos, da casa e da alimentação. Me perfumo como antes e ainda uso aquele baton... Mas hoje eu vi do vento os olhos de medusa... Me petrificaram! Como a gente faz agora para derreter, João? Preciso dizer que o lar vazio me dá menos trabalho, menos cansaço, menos agitação. Quando necessito, saio, ligo, e no dia seguinte, ao lar retorno, sem vozes e sem nãos. Tenho me virado com as compras. Mulheres de água também aguentam a pressão nos ombros. Mas ainda não sei o que fazer com as

Uma ode à moringa de barro!

Uma ode a moringa de barro! Que me sedenta propositalmente pra, unicamente, matar minha sede de vida. Me recria... Possessiva, não me admite jarros, garrafas ou geladeiras... Filtros? Do barro, o amor esculpido, talhado, abençoado! Água benzida! Da minha avó é a moringa, antiquada quanto a minha vida, linda quanto o desejo da gente que paraleliza com essa morte moderna... Do barro, jaz a primavera... Sinto gosto de vida já no sentir o peso nos braços ao portar a moringa, até o gole largo... Dessa água o que bebo é o desejo tribal de mato e o toque de infinitas mãos de irmãs femininas... Mãos entregues e artistas sem sujeito, sem nome... Não obstante, de finalidade conhecida, coletiva, una... Mas de onde vem esse charme moringalês? Da avó que cheira a luz, alecrim e camomila? Ou da memória do gosto acre do vinho pisado, artesanado na moringa? É esse passado tribal que a gente bebe no presente... É a unicidade que a gente sente enquanto flutua nesse mundo em par