Postagens

O amor dura um copo!

Meus lábios nem moldaram o cálice dos seus quando fui ao velório meu... Pois traguei quase todo o amor e me deparei com a morte. O amor dura um copo! Pra onde a gente vai quando a gente morre? Pra onde a gente vai quando o amor morre? Travessia para os vários da gente na árida caravana das coisas... Quem é de amor não se contenta com a vida em ramos A morte é vida seca. Mas morrer em ti é vida plena... Tenho medo da morte. Então bebo do amor o cálice como quem preserva a última gota, a gota que escorre, que amortece, mata e morre. Eu não quero morrer o amor! Não quero matar o amor! Mas guardar amor como poupança... Amor se poupa? Sei que se come. Se consome... Como ser fogo e também amor que dura? Eu não quero morrer o amor Não quero matar o amor... Apenas morrer em ti eu quero. Essa morte diária de um amor que nunca morre... Eu não quero matar o amor tragando essa última gota-morte. Ainda não aprendi a beijar esses lábios gelados, fonte do todo amor

Choro meu

Saudades do berro. Desejo do grito. Independente e estremecido grito na multidão... Sonho de choro pintadinho de azul  ou de vermelho... Pois hoje o choro não tem cor,  não tem som,  nem anseio... Tem é dor.

Menino mar

E naquele dia era o vento que abria os caminhos e emoldurava os nossos sorrisos e despenteava os nossos cabelos.. Éramos participantes da vida e nada portávamos além de nossos desejos e a solidão que se queria conjunta, quente e cheirando a mar... A filha do fogo com o filho do mar.. e o vento. Era o vento que nos dançava. Suas mãos eram de vento, embora não vazias. Meu corpo todo era então tomado por essa brisa que nos lambia com sua gelada e salgada língua, Que tornava tudo móvel, inclusive nós. Foi naquele fim de tarde que senti, em seu abraço de vento e desejo de mar, abraçado e aquecido todo o desamparo do mundo. Você bagunçava a areia, meus cabelos, a praia, o ar, meu vestido e, aos poucos, ordenava tudo aqui dentro... Inesperado, sorrateiro, doce e leve, me deixei bailar e bailei até me sentir ainda mais leve que tu, meu doce menino de coração vermelho. Então era eu o próprio desejo, cort

Uma nota só

Borboletas mortas em todos os cômodos de uma prisão... Solidão nada mais é do que o próprio desejo do não se conhecer só. Para ser livre, ser só? Ou ser só para não doer?...

Descaminhos

...E imersa em uma ausência de anos a fio, em um completo descaminho, chega o dia do reencontro... Despertei com o habitual peso da noite a reclamar pela inércia; escovei os dentes; lavei o rosto; li meu jornal matutino; bebi, sem açúcar, meu café amargo; saí com o cachorro pelo quarteirão e, em 40 minutos, estava pronta. Como quem amarra o cadarço do tênis, estava eu na mesa do Café a esperar... Em um misto de especulação, desconforto e obrigação, blasfemei aquele encontro no horário crítico da manhã. Eu... com tantas coisas a fazer. Por quê não disse, hoje não?  Na minha frente surgiu ela. Moderninha de aparência, com novo (ou velho?) look: cabelos curtos, esbelta, com um olhar afável de quem, em vão, deseja reconstituir e restabelecer, em instantes, o vazio de mais de uma década que 5 anos deixaram... Nos abraçamos e eu só pude sentir saudade... Uma saudade consciente de sua perpetuação. Já éramos outras... Como que por obrigação, nos interessamos uma pelo des

Mar de dentro

Um prólogo: Caos, Corrupção, Liquidez, Desatenção. Mal estar na civilização. Aceleração, Frenesi, Angústia, Desatenção, Fragmentação, Ação. Um ser aflito pela liberdade pede trégua. Quer aprisionar-se, ou melhor, conhecer seu cárcere. Tempo. Relógio. Controle. Auto-controle. Subjetivação do caos dominador. Desajuste. ...Trégua. 'Criamos neuroses para não enxergar coisas indecifráveis' (frase aproximada, presente em "Manhattan"). Em um mundo cada vez mais particionado, nosso inconsciente emerge em flashes. A racionalização é difícil quando o que se escreve vem de dentro... Do mar de dentro. Uma psicológica narração: Ela era solidão. Não sabia por que era solidão. Como queria integrar-se ao mundo... (!), mas os laços a amedrontavam.  Aprofundava-se, ia fundo, mas apenas até o limite de encontrar-se a si mesma, não sabia, todavia. Dedicava-se aos amigos com tanto afinco, que lhe doía ter de procurá-los quando precisava. - Porq

Cada Tempo Em Seu Lugar

Preciso refrear um pouco o meu desejo de ajudar Não vou mudar um mundo louco dando socos para o ar Não posso me esquecer que a pressa É  a inimiga da perfeição Se eu ando o tempo todo a jato, ao menos Aprendi a ser o último a sair do avião Preciso me livrar do ofício de ter que ser sempre bom Bondade pode ser um vício, levar a lugar nenhum Não posso me esquecer que o açoite Também foi usado por Jesus Se eu ando o tempo todo aflito, ao menos Aprendi a dar meu grito e a carregar a minha cruz ... Cada coisa em seu lugar ... A bondade, quando for bom ser bom A justiça, quando for melhor O perdão, Se for preciso perdoar Agora deve estar chegando a hora de ir descansar Um velho sábio na Bahia recomendou: "Devagar" Não posso me esquecer que um dia Houve em que eu nem estava aqui Se eu ando por aí correndo, ao menos Eu vou aprendendo o jeito de não ter mais aonde ir ... Cada tempo em seu lugar ... A velocidade, quando for bom A saudade, quando for m