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Mostrando postagens de 2019

Fita amarela

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Imagem retirada do site:  https://www.contioutra.com/minha-avo-dizia-que-quando-uma-mulher-se-sentisse-triste-o-melhor-que-podia-fazer-era-entrancar-o-seu-cabelo/ Busquei a fita, o pente e os fios de cabelo das minhas irmãs. Desfiz o nó e iniciei os remendos das tranças, com fita amarela, que brilha o ouro, o sol, as abelhas. Amor de trançado para unir o velho com o prenúncio do novo, que fica na raiz. As raízes crescem e se transformam, menina, porque a cada dia algo de novo nasce enquanto o velho vai morrendo aos poucos na ponta da tesoura. Trançando a mim e as minhas irmãs aprendi um cadinho de beleza, um tantinho de paciência e uma compreensão desatadora dos fios da vida... Trançando eu mando a tristeza embora.

Passarinho furtivo

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Belas são as coisas indizíveis. Tentar exprimi-las para que se lhes compreenda é exemplo claro de profanação. Eu bem que insisto, mas meu amor-próprio é delicado como o passarinho mais furtivo. Quanto mais eu me atropelo, quanto mais eu te amo, mais eu me esqueço e confesso: mais belo do que querer você na minha vida, na minha cama, no futuro do meu coração... é sentir saudade de mim só. Sentir é deixar de esquecer. Então, antes de bater as asas n´outra estação, a calma me mandou rezar esta oração. Anote isto, passarinho esquecido, - máxima que fortalece as asas cansadas: mais belo do que sentir saudade de ti é sentir saudade de mim só.

Por de-mais amar

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Pisei na areia e o mar se abriu, sem saber te dei a mão já na primeira vez... Ainda um estranho que pressinto nos poros, no cheiro, no gozo... Algo doce te transpassa Nessa dança... molhamos os pés no insondável do a-mar que embala. Foram as ondas desde o começo! Nos circundamos como botos encantados, mas minhas águas não me enganam, correspondem ao seu jeito de fazer música e subir marés. Eu não tenho medo porque sua língua me toca e me derrete como as águas que lambem as pedras mais graves e agudas De qualquer lugar... ...hás de descobrir tudo aquilo que escondi de tesouro sem pressa, na poesia que brota do meu peito dorido, nos seus dedos coloridos de uma tela em construção, na letra da música que há de nascer no fitar dos olhos num amanhecer à beira -mar - até-logo porque eu te pressinto no frescor da corrente marítima que nos navega, sem pescador nem rede nem conquista Quando a natureza de dois namorados a nadar se apequena no mistério inso

Acontecimento

... hoje me encontrou não por acaso, foi minh´alma Quem chamou ... hoje me encontrou um gosto de selva, um misto de amor-seiva viva ardido num fogo ceifador ... hoje me encontrou um lampejo de luz, um farol da baía, sentimento profundo...grande que em mim se ajanelou... ...abriu portas, correntes, um navio negreiro de recordações que aquela canção um dia ecoou ... hoje me encontrou você com a mesma ginga, aquele velho sorriso, mesmo olhar-abraço sedutor ... hoje me encontrou o passado no presente eu descabelada... tudo em mim se revirou... ... meu baú de  memórias e nostalgias - com quê permissão? - minh´alma transbordou... uma Pérola negra joia rara... que onda do mar rebentou ... hoje me encontrou foi a vida O meu seio pequeno quase que não suportou! ... hoje me encontrou foi Janaína... senhora das marés de minha vida A Pérola do Mar hoje uma peça me pregou.

Cachoeira

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... Ali onde elas brincavam me demorei, admirei... Duas crianças sendo crianças, inventando brincadeiras, construindo histórias de bonecos e super-heróis... Nessa manhã um menino de 6 anos tornou-me milionária. Talvez a melhor palavra seja banqueira... Banqueira dos tesouros da Natureza. Com a simplicidade e pureza típica da idade, catou papel, lápis, tesoura, giz e caneta e criou cédulas e moedas para resolver o problema da falta de dinheiro na imaginária feira de frutas e produtos fantásticos. Disse-me, ainda, com toda a convicção e sabedoria que daquele momento em diante eu seria muito muito rica, "uma teacher milionária", mas logo percebeu que faltava algo: um diamante reluzente. Então voltou para o "escritório" e preparou, com seu sorriso banguela, mais esta riqueza... Guardei orgulhosa. Guardei tudo aquilo no coração e já não tenho d(u/í)vidas... Não fosse a vida, jamais me imaginaria em tão fecundo ofício... de ser milionária de sorriso

Circunvoluções

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Hoje eu padeço porque calo o fluxo de alma, tamanho padecer que atirei no mar uma pedra da garganta. Pedra vi ressoar por cinquenta metros de circunferência. Da mesma maneira que observei a respiração invisível dos peixes pela superfície, suas borbulhas, coitos, partos e a circunferência projetada, quis abrir uma concha sofrida no núcleo da minha existência. Pensando bem na concha, recordei de algumas pegadas do passado. Me lembrei de um louco, doido varrido, que cantava desafinado, alto e descompassado, desgrenhado, besta o necessário para ser feliz nessas circunvoluções do Tempo, ele costumava ser meu namorado. De algum modo raro, sempre fui dessas de atrair loucos e assumir deles as consequências. E foi a essa imagem que atirei pedra, porque pedra eu não sabia declamar. Eu tinha ido para a beira do rio para abrir-lhe a minha concha, mas acabei lhe atirando pedras e engoli a pérola, logo o mar ficou descompassado nas voltas do vai-não vai, nas voltas do foi que vem, do foi q

Com o perdão da Palavra

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A poesia tem que merecê-la e há de encontrar-se pronta quando as Musas tocarem-lhe o ombro, quando o divino sopro tocar-lhe a face para que toques de cumprir sua sagrada tarefa. E o deliciar-se da Poesia que se escreve deve ser circunscrita ao prazer de ser levada, conduzida pela pena (duras penas!...) Poesia, hei de escrever de hoje em diante, sempre com letra maiúscula, porque exprime um estado de graça, um estado de calma, um estado de alma; do ser, uma ausência-presença. Quem fui eu e por que caminhos andei para maldizer a palavra, o pensamento e minha Musa Rendadeira? Pois que fui ingrata e, dela, escarnecida. Com o perdão da Palavra, Ela, rarefeita, aprisionou-me o peito e me vi a pescá-la com esforço, a perscrutar-lhe o pensamento para mergulhar em suas águas reparadoras e libertar meus prisioneiros do Calabouço do Silêncio. Hoje escrevo para ajoelhar-me ao Divino-que-tece desde as primeiras veias ao abraço frio da terra, Àquele que, Sendo, m

Os ensinos de uma criança de 7

Para Ana Clara Maia, uma amiga encantada. Hoje o seu dente caiu e eu pude vivenciar o momento derradeiro,  o medo, aquela dor agudinha, o sangue,  a coragem, a bravura dos sonhos de criança  numa pequena morte que é pura expressão da vida:  passagem, semelhante aquela que você queria atravessar num mar de instabilidade inexplicável  dentro de um pequeno-grande coração de um infante... Você sabe que já bem-te-vi muito bravo,  que já bem-te-vi insistente,  que já bem-te-vi ilhado... Hoje, porém, o seu dente caiu e a passagem foi alegre. Teve festa no céu.  Com a fada dos dentes, eu recebi este tesouro seu: - Ai, se eu tivesse ainda um coração de criança,  que sente saudades,  mas vê que a passagem é viagem e esperança,  alegria e mistério,  rota de fuga  e vida mais viva nas sete cores do Universo! 

Ponte para Pasárgada

Galo cantou no orvalho da madrugada. Poesia chorou nos recônditos de mim. Libertei um prisioneiro às seis horas da tarde, nesse tempo misterioso que não é dia, que não é noite, que é o vazio dos sentidos - interlúdio, passagem o silêncio de Deus. Nessa hora, as palavras não conseguem velejar estão em vigília num tempo morto. Sinto o peso do nada. Ele nada, tu nadas, eu nada posso saber do mar. Quem é que sabe nadar? Perscruto o tempo - aperto o botão de rosa para saber do que dela sai. Machuco a rosa e nada de metafísico descubro no nada. Quisera me espremer para desvelar uma palavra... mas o nada, o nada o nada o nada. nada de chão, nada de cão, nada de pão, nada de beijo, nada de água. Olho pro vento, quisera conhecer as indagações do tempo... mas ele também não é nada. Deus fez o homem que cria que sonha que pensa e filoso-fia, rei de uma angústia desconhecida, - não pode valer-se é de nada!