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Convite

Se você vier pro que der e vier comigo... saberá que sigo um caminho de flores e espinhos,  de dores e amor imenso.  Conhecerás as palavras que curam feito medicina e que sabem repousar na tua música,  conhecerás minha solidão, amiga de todas as horas,  que se acompanha de outras e que regenera.  Saberás de meus olhos a beleza da vida e do ar, minha matéria,  dos afetos em estado de graça, se você vier pro que der e vier comigo... morrerás sempre um bocadinho, conhecerás minhas renúncias e os seres que me sustentam.  Se você souber fazer silêncio, tua música nunca será mais bela. Até aqui somos retas paralelas,  Até aqui a força do desejo nos impele, mas não sustenta.  Decida-se, amor, se vens ou se ficas,  porque minha natureza é a travessia.  Do porto de amor e movimentos bem sabemos,  mas o norte apita e e, assim como no primeiro dia, ainda te quero.  Com este mesmo amor, se não vens, me despeço  que o percurso é de aberturas e despedidas. 

Lira do movimento

Coração ferido  teimou de amar de novo, como um cão vadio, goza agora com gosto, goza agora choroso, goza agora incerto. Coração ferido  teimou de amar de novo, coagula e rompe frenético no tempo. Coração valente, de estabilidade eu não me lembro - amante sei também que, no espelho, esperar é violento. Coração vadio, por que teimou de amar de novo? No baralho, a certeza incerta,  mas escolheu o erro certo  e truco! Chora agora na lira do movimento. 

Livro

 Abre caminho a cada passo há de ser sempre assim. Amor se aprende amando e se desentope as artérias chocando,  ferindo, cicatrizando. Lá atrás se fez o caminho,  mas eu não vi - caminhava... Pode passar agora uma boiada  - a análise fria. Amor se faz errando.

Colcha de retalhos

Seios fartos, colcha de retalhos do amor presente com amores passados no mesmo compasso.   Peito vasto de acúmulos. Nada se renova - tuas cicatrizes me falam, cantam, gemem e sorriem.   Profundas são as nossas águas quando se juntam, Mas, como tu, não sou  mulher de seios fartos. Enquanto eu bailo de dois, tu bailas em mil.   Não entendi o enredo deste samba, amor... A esta hora, em pleno fluxo de pássaro ? que me recuso a compor desritmado Neste carnaval infeliz.

Erro certo

Se até o profeta Maomé um dia amou quem sou eu para furtar-me a este dardo cuja ausência me deixou  esfomeado? Bendito fardo lancinante agora ardo que até a mágoa evaporou. 

O nascimento do poema

As vezes eu ponho o poema para dormir Tão somente assim, quiçá se torne pungente, fermentando amorfo na calada da noite, assim como os lobisomens e as sementes. Se encrava-me um pelo  ou a unha,  um abcesso em contornos doirados dos serafins cacheados me amanhece. E ele desperta assim tão puro,  tão indecente, rasgando a matéria tão impunemente que lhe miro as fuças e oro (mãos em prece): - Amor, é a dor que te fecunda, mi-ra-cu-lo-sa-mente!

Máquina autocrática

 É preciso linguagem para fazer Amor que só existe no peito enquanto arde e quanto mais ele arde mais preciso da linguagem para fazer Amor. 'Amo-te' é belo, mas não cabe É preciso criar linguagem para fazer Amor  que arde E quando os músculos se contraem invoco linguagem catarse para experienciá-lo, Amor tal qual tirano que invade, dono de minha identidade,  riso e dor.  É preciso linguagem para alimentar o Amor.