O nascimento do poema
As vezes eu ponho o poema para dormir
Tão somente assim,
quiçá se torne pungente,
fermentando amorfo na calada da noite,
assim como os lobisomens e as sementes.
Se encrava-me um pelo
ou a unha,
um abcesso em contornos doirados
dos serafins cacheados
me amanhece.
E ele desperta assim tão puro,
tão indecente,
rasgando a matéria tão impunemente
que lhe miro as fuças e oro
(mãos em prece):
- Amor, é a dor que te fecunda,
mi-ra-cu-lo-sa-mente!
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