Espaço para o vento brincar
Com 26 recuei. Regressei ao bairro da minha infância com todos o estigma da pobreza. Aqui não tem cinema, nem shopping center, nem livraria. Não tem ônibus toda a hora e chegar e sair não é tão fácil como deveria. Mas tem memória. Tem árvores, tem quintal, varanda e espaço para o vento brincar. Tem rua de verdade e crianças correndo e brincando do fim da tarde até o toque de recolher dos pais. Aqui tem jardim e tia Catarina. Tem idosos ranzinzas esconjurando menino travesso e a igreja que casou meus pais. tem vida na calçada e portas abertas e cadeiras na hora da fresca Tem pé sujo, muleque, pipa, cachorro solto, vizinho que é de casa. Tem suporte para quem chega e precisa. Tem vózinha na casa de baixo com suas demandas, reclamações e bendições. E uma menina que aprende tarde a se virar com a vida. Aprende com tempo e amor, porque aqui o tempo passeia com a b-r-isa.