Casa de tartaruga

Espantei a poeira de toda a mobília e encontrei outra vez o brilho das coisas,
O cheiro do dia,
A paz de uma brisa numa manhã de calor.
Encontrei uma vontade resiliente de ser no meio dos senões e das turbulências da casa.
Eu preciso me mudar,
Mas minha casa é a das tartarugas...

Por sobre essa casca aprendo a recriar um conforto de dentro.
Sinto que é essa a minha resistência. Me afinar com as ondas, com o mar e seguir na corrente da vida,
Embora você me diga que eu tenho que ir para o outro lado, para qualquer lado, para me agarrar naquilo que não sou.
E eu forcei quase todas as minhas energias e recursos para não ser eu mesma, para não ser meu caminho e quem sabe algum dia te trazer um conforto daqueles que podem lavar as mãos para seguir.

Porque não lava as suas mãos agora e não se esquece de mim?

Eu não caibo nesta casa, não caibo nas suas dívidas, não caibo no seu entendimento, nem no seu conceito de família.
Fui feita para não caber desde o dia em que me gerou tão cheia de expectativas e falta de tempo.

Mas ainda caibo em mim. Caibo pra mim e para o fluxo da vida.
nele me firmo e continuo com alguma certeza descabida. Eu não preciso de toda essa mobília.

Eu mergulho com as tartarugas
e você, na angústia que escolheu.

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