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Amor é bicho selvagem

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O Amor subiu do peito e estancou na goela. Quis voar no céu incerto e pra prevenir, tomei um gole de cachaça amarga e mandei ele entrar pra dentro! - Engole o choro, menino! Tudo que dói a gente prende, porque pra soltar tem que saber chorar baixinho, perder o peso, o controle, o possível... Acho que o Amor desgostou de algumas coisas e quis bater em retirada, mas fiquei com medo. Vai que ele vai e não volta! Então quis o Amor à força e o Amor ficou doente. Então levei Amor pra enfermaria, fiz novena, quarentena, oferenda... - Se o Amor morreu, logo ressuscita! Mas Amor é bicho ingrato, visse! Quanto mais se quer, mais se esquiva. As vezes passa de visita, e transborda, e bagunça, e quer sumir sem deixar rastro. Bendito o pouso onde o Amor ama, bendito o instante aonde o Amor dorme, aonde descansa. - Amor é bicho selvagem, menino, acho que ele não gosta da cidade!...

Ensaio II

Eu quero escrever uma história que não fale sobre a minha vida. Eu quero contar e revelar as belezas sutis que escapam e circudam a vida dela. Quero muitos pontos finais para conseguir respirar. Conhece, o leitor, oráculo mais poderoso do que o silêncio? Quero um conto cru, tão simples, tão simples que economize a escrita. Que economize os papéis. E me enredar no fio que tece o Criador e tece também nossas vidas comuns. Ser comum é a meta desta minha vida. E para terminar, quero um desbastador de argila, para eliminar todo o excesso que nos confundiu desde o princípio da Criação. Eu não quero curar. Esse é um conto que dói porque nasce da alegria da vida. Vida... Quantas vidas existem em uma só vida? A busca por essa história começou há mais ou menos quatro anos. Eu, uma menina, despontando na vida. Via uma janela. Todos os dias. Xamãs acenavam e eu ia furtiva. Despertava com o peito transbordando de não-sei-o-quê. Um dia bati na porta de uma astróloga. A casa era ampla, va

Faxina

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Sim, existe prazer em acumular coisas velhas. Eu sou a rainha do acúmulo das possibilidades no peito... Poxa, colocar o amor no mundo, de verdade, como vem, é abrir mão dele, é deixar o amor livre para não ser: é ficar livre para não amar - é curar... as barragens e represas que a gente mesmo criou. Para submeter nossa natureza selvagem, a gente continua tentando escolher o alvo e flecha de Cupido. Sim, fui sovina. E descobri a face de Medusa do amor. Ora, vê! O mar não rompe seu fluxo porque o lago não está disponível para receber... A-mar é não-ser.

Ensaio

Domesticaram a minha fera, amaciaram minha voz porque pequena, mas não me avexo não se tenho garras, firmeza na caneta e nas mãos e um certo dom pra desfazer... O silêncio que rasga camada a camada. Olha pra minha carne crua! Vou começar a andar nua... Eu, a maluca indomada, mostro-lhe os dentes. Desconheço maior prova de amor.

Minha escrita

Niterói, 2 de abril de 2016.  Minha escrita Não somos o que queríamos ser, somos o que sempre fomos. É tudo tão simples, mas juntar este quebra cabeças... Tão difícil! Passei a vida invejando a teatralidade de certos amigos: belos personagens. Invejei a música dos passos do meu namorado - ele era a música em si mesmo -, e também o som de uma sereia portuguesa... Por quê eu não nasci também para sereiar? Sensibilidade para isso sempre tive!... E o cinema de Cuba? E a fotografia? Eu vivi errando de caminho pra não aceitar meu destino. É que aterrissar na gente é difícil! Ninguém quer viver do essencial. Todo mundo deseja ser o impossível. Mesmo errando meu caminho e fugindo (como sei bem fazer isto!), a poesia me cobrava nas esquinas e eu escapulia um versinho, um remendo. Escrever era necessidade de juntar meu mundo interno. Nos últimos anos, eu calei completamente a palavra. Reencontrar-se é difícil, porque a gente rabisca e se rasga. Lemb

Para a pequena família

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              Eis a ponta de minha ancestralidade, tecendo a teia cármica de minha circunscrição.      Ai, essas mulheres... Espelho de meu mais temido inferno e também, de minha oportunidade de purificação.      Muitas vezes, tão difícil é amar e sustentar o coração aberto, mas ando comprometida com esse enlace, que a cada passo, desenlaça nós passados de seculares e densas repetições.      Em minha pequenez esquecida, só marcas inconscientes de negação...      - É que ando, agora, conduzindo este cavalo.      O divino que habita a matéria vem tocando em minha mão, e suportando, e desfolhando caminhos de mato seco e pedregulho. A chegada é Gratidão.      O Amor é sobrehumano.

Pra não reviver você

Solidão calou o peito, fechou a garganta com bolas de amigdalite pra não reviver você. Pra não reviver você estacionei a vida em miragens masculinas arredias, desastrantes, sem eco. Porque calei o silencio, rasguei o verbo de afeto engoli a consciencia arranquei você vejo o mundo difuso só não lhe atravesso.