Minha escrita

Niterói, 2 de abril de 2016. 

Minha escrita

Não somos o que queríamos ser, somos o que sempre fomos. É tudo tão simples, mas juntar este quebra cabeças... Tão difícil!
Passei a vida invejando a teatralidade de certos amigos: belos personagens. Invejei a música dos passos do meu namorado - ele era a música em si mesmo -, e também o som de uma sereia portuguesa... Por quê eu não nasci também para sereiar? Sensibilidade para isso sempre tive!... E o cinema de Cuba? E a fotografia?
Eu vivi errando de caminho pra não aceitar meu destino.
É que aterrissar na gente é difícil! Ninguém quer viver do essencial. Todo mundo deseja ser o impossível.
Mesmo errando meu caminho e fugindo (como sei bem fazer isto!), a poesia me cobrava nas esquinas e eu escapulia um versinho, um remendo.
Escrever era necessidade de juntar meu mundo interno.
Nos últimos anos, eu calei completamente a palavra. Reencontrar-se é difícil, porque a gente rabisca e se rasga.
Lembro o começo da saga:
Eu era criança e, no meio de um bullying na aula de português, um "amigo" derrubou meu versinho de 8 anos... Foi assim que um versinho mal-parido ganhou o festival de poesia da escola.
As letras viraram um reconhecimento. Por um momento, até gostei. Daí saí da escola, me reinventei numas paredes cinzas, calei de novo a poesia. E ela reapareceu em vários momentos da vida. Em alguns, como fardo, noutros, salvação. Vinha, então, disciplinada, no silêncio do quarto. Teríamos amadurecido?
Vês? Não há escolha. A palavra é minha liga, meu dom e eu aprendo a dividir.
Nessa história de fugas, deparo-me, hoje, com as Letras como ganha-pão. Não adiantou estudar economia, atravessar o oceano, aprender a jogar tarô...
Tudo me leva à língua, porque escrever é, acima de tudo, costurar com a minha bisavó falecida que mal frequentou o ginásio, é honrar meus ancestrais sendo quem sou dentre as tantas que já escolhi ter sido...


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