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Ensaio

Domesticaram a minha fera, amaciaram minha voz porque pequena, mas não me avexo não se tenho garras, firmeza na caneta e nas mãos e um certo dom pra desfazer... O silêncio que rasga camada a camada. Olha pra minha carne crua! Vou começar a andar nua... Eu, a maluca indomada, mostro-lhe os dentes. Desconheço maior prova de amor.

Minha escrita

Niterói, 2 de abril de 2016.  Minha escrita Não somos o que queríamos ser, somos o que sempre fomos. É tudo tão simples, mas juntar este quebra cabeças... Tão difícil! Passei a vida invejando a teatralidade de certos amigos: belos personagens. Invejei a música dos passos do meu namorado - ele era a música em si mesmo -, e também o som de uma sereia portuguesa... Por quê eu não nasci também para sereiar? Sensibilidade para isso sempre tive!... E o cinema de Cuba? E a fotografia? Eu vivi errando de caminho pra não aceitar meu destino. É que aterrissar na gente é difícil! Ninguém quer viver do essencial. Todo mundo deseja ser o impossível. Mesmo errando meu caminho e fugindo (como sei bem fazer isto!), a poesia me cobrava nas esquinas e eu escapulia um versinho, um remendo. Escrever era necessidade de juntar meu mundo interno. Nos últimos anos, eu calei completamente a palavra. Reencontrar-se é difícil, porque a gente rabisca e se rasga. Lemb

Para a pequena família

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              Eis a ponta de minha ancestralidade, tecendo a teia cármica de minha circunscrição.      Ai, essas mulheres... Espelho de meu mais temido inferno e também, de minha oportunidade de purificação.      Muitas vezes, tão difícil é amar e sustentar o coração aberto, mas ando comprometida com esse enlace, que a cada passo, desenlaça nós passados de seculares e densas repetições.      Em minha pequenez esquecida, só marcas inconscientes de negação...      - É que ando, agora, conduzindo este cavalo.      O divino que habita a matéria vem tocando em minha mão, e suportando, e desfolhando caminhos de mato seco e pedregulho. A chegada é Gratidão.      O Amor é sobrehumano.

Pra não reviver você

Solidão calou o peito, fechou a garganta com bolas de amigdalite pra não reviver você. Pra não reviver você estacionei a vida em miragens masculinas arredias, desastrantes, sem eco. Porque calei o silencio, rasguei o verbo de afeto engoli a consciencia arranquei você vejo o mundo difuso só não lhe atravesso.

Temporal

Não sou eu quem me navega Quem me navega é o a-mar, turbulento. Ou me afogo ou te velejo... Se encaro as ondas - fúria do vento, iço velas, carrego remo... ainda não aprendi a nadar. Não sou eu quem me navega Quem me navega é de a-mar.

Repaginação

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Fato consumado. Dei a você o meu corpo amadurecido, meu momento vazio. Seu afeto é desejo não correspondido, meu caro. Agora eu me dou para você consciente em prol da descarga energética. Me ausento daquela falta que cultivo ao longo dos anos... Consumo o ato. - Está claro: a amizade perdeu a liga, o cotidiano. Leve das expectativas desses homens, sobra a mulher... Pois estou cheia de matéria, homem! Trago o cheiro de muitas memórias no dentro. E mais adentro, a ânsia do inodor no corpo - o começo do recriar. Tanto acúmulo de gentes, afetos e histórias são acúmulos, no peito, de penas e chumbo, ao mesmo tempo. O ato fôra então consumado: dorme, o Verbo, ao meu lado. Enquanto vou tirando o chumbo do coração vermelho, vivo a dor da reciclagem. Descortino a festa. Posso, enfim, recomeçar?                 

À francesa

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Hoje uma borboleta negra cruzou o meu caminho. Uma transmutação sucedeu. Se as asas bateram é que voei meu eu. Meu pai sempre dizia: - Filha, na vida a gente tem de saber a hora certa de chegar e a hora certa de sair. Mas eu só queria saber o "como",  nunca atentava para o "quando". Como saber? Meu pai era tão sábio quanto o oráculo chinês. Virginiano que era, sempre soube seu timing, com critérios de detalhe e suas cem-razões. Tudo com direito a painéis meteorológicos e percepção cronometrada de quebras de rotina. Eu, que sempre tive pouca habilidade no mundo concreto, minha ação sempre foi fruto de rompantes: o instinto cego. Sendo amiga do destino, ele presenteava minhas maiores dores com o escárnio da beleza: o negrume de borboletas no momento da partida, nas mortes de amor. De fato, enquanto o pesadelo de minhas amigas incluía andar na rua pelada sem se dar conta, voar e cair de precipícios, meu maior medo era o ataque transformador.