De manhã quis escrever-te um poema, mas calei. Pensei em você com meu olhar, esse triste; que, responsável, se despede. Neguei. À tarde quis compartilhar com você coisas do Rio, da pátria, de Vinícius, da pior solidão que um homem pode ter e sentir... Mais uma vez me calei, pois que o poetinha falou-me, revelou-me no processo mesmo do medo de fazer ferir. Com uma colher de feijão grosso, do almoço, esqueci, atrapalhando a digestão, ludibriando o mal-estar, encerrando-me em mim. Neguei para continuar o mundo que nos transpassa. Sorri. Amo é amar-te, menina! Acontece que simbiose cessa o coração, acontece que sou triste e que sou amor para dar até o momento de morrer mansinho, sem grito, um pio preso ao silêncio viril. Não foi a langerie, nem meu desejo doido, o teu cheiro doce ainda entranhado em mim... Acontece que chorei quando mereci seu coração, seu lar e, para digerir esse feijão, o café, toda a sua gratidão, à noite traguei tudo até o fim... Quero ser justo. (João M