Queria era que tu apreciasses
Queria era que tu apreciasses aquela ostra na praia, não a carne mole, mas a pérola que surge da poeira no aconchego das cavidades internas. Queria era que tu apreciasses o cheiro do sal, os segundos que compõem este poema e o minuto que se decantou agora feito grão de areia. Queria era que tu apreciasses a beleza perdida e renovada nas intempéries do tempo, mas você fala e você fala e você fala e não nota. Acontece que tu me amas e me pedes que eu fique eu fico. com os olhos na praia, com as mãos na ostra, banhada em teu cheiro de casa enquanto buscas o vento de outra piada e você fala e você fala e você fala e não percebe que eu sou como aquela água que bate na pedra. Dizes que eu tiro leite de pedra? Queria era arrancar o teu silêncio como saia que revela. Mas tu que cantas teorias e cidades, se tu visses e amasses aquela ostra azul da praia, algo de mim, talvez soubesses...