Tarde de chuva
Hoje chove em Rio Branco e me recordo do cheiro da chuva no quintal da minha avó. Ela ainda mora lá onde o vento faz a curva.
Tempo passava e eu não contava as horas observando a roda de fiar incessante da minha bisavó em sua máquina de costura.
Como era bom simplesmente observar, sem ter que aprender coisa nenhuma, apenas observar.
Sinto saudade de quando a gente corria para tirar as roupas do varal antes de cair a chuva, e de pentear os cabelos ralos da cabeça morena do meu avô e ouvir as histórias mestiças da minha bisa...
Ainda que as nossas heranças turcas e indígenas nunca houvessem existido, elas me moldaram, no sotaque de guerra que a minha bisa nordestina nunca perdeu.
As suas dores a tornaram desconfiada de tudo e de todos, mas nunca lhe roubaram a ternura e o sorriso banguela.
Saudades de ver vovó colecionando selos de todos os jornais que ela lia, todos os dias, para checar as informações, muito antes de se popularizarem as fake news dos anos doil mil.
Saudades do seu silêncio, saudades da sua disciplina.
Hoje em Rio Branco deixo a chuva cair lavando memórias e revolvendo na terra o meu amor.
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