Desenredo-me, aposento a navalha que divide dois cumes simétricos, opostos. Caminho no meio, entre abismos de beleza estonteante. Não busco a felicidade, não fujo da dor, existo para além dos cactos do deserto. Vida sinuosa, contínua, segundo a segundo, respiro, apenas existo, porque foi assim me fizeram, foi assim que me tornei é assim que me transformo cada dia mais minha cada dia algo que me escapa também. já não sei mais de nada, seguro apenas nas mãos da vida, sempre potente, indecifrável, nem bom, nem mau, mas o meu e o seu tem. Aquilo que não compreendo, eu aceito também, porque minha vontade não basta para decifrar ninguém. Ao longe, ainda vejo o laranja do sol poente e o velho desejo de ser dois. Mas não permito-me parar agora Não permito-me demorar nos velhos fios farpados que compuseram meu enredo mais alguém. Não sei quando passa, mas eu passo, cada dia mais nua, cada dia mais crua, passo-a-passo. Algo, porém, me guia nessa estrada-que-não-sei, nem bússola,