Amor.tecer
Amor.teci todas as vezes que inventei que Cupido veio me visitar.
Amor.teci na obstinação de criar enredos e enlaces para embalsamar minha
criança ferida com contos convenientes sem saga de príncipe em busca de
princesa; amor.teci porque não havia princesa, tampouco príncipe, tampouco a
narrativa de alguém.
Amor.teci para “amar”, porque não compreendia que o único que cabia na
vida era o trabalho diligente de desentupir
canos e prontificar-se para o a(mor)contecimento.
Amor.teci porque estava cansada de esperar por Deus, porque fui atrevida
o bastante para pensar em criar; amor.teci para brincar com as palavras,
encenar, divertir-me e sonhar dentro do sonho de alguém.
Amor.teci por inveja e para viver morrendo.
Para des.a.morte.cer, o coração receitou duas horas de poema por dia,
para desencravar os pêlos e desnudar a carência que ainda tece... A.morte.cia.
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