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Mostrando postagens de dezembro, 2014

À francesa

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Hoje uma borboleta negra cruzou o meu caminho. Uma transmutação sucedeu. Se as asas bateram é que voei meu eu. Meu pai sempre dizia: - Filha, na vida a gente tem de saber a hora certa de chegar e a hora certa de sair. Mas eu só queria saber o "como",  nunca atentava para o "quando". Como saber? Meu pai era tão sábio quanto o oráculo chinês. Virginiano que era, sempre soube seu timing, com critérios de detalhe e suas cem-razões. Tudo com direito a painéis meteorológicos e percepção cronometrada de quebras de rotina. Eu, que sempre tive pouca habilidade no mundo concreto, minha ação sempre foi fruto de rompantes: o instinto cego. Sendo amiga do destino, ele presenteava minhas maiores dores com o escárnio da beleza: o negrume de borboletas no momento da partida, nas mortes de amor. De fato, enquanto o pesadelo de minhas amigas incluía andar na rua pelada sem se dar conta, voar e cair de precipícios, meu maior medo era o ataque transformador.

Breve

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Num momento de descuido ele atravessa a minha janela... um Domingo de Paz. Deixei-o entrar, se acomodar. Veio para um café. Sorriu. Seduziu. Tocou meu corpo com o frescor de fim de tarde. Beijou, bebeu, acariciou e, cheio de senões, assoprou: - Em breve eu vou. Não posso ficar. - Mas quem lhe deseja para além dos instantes? A beleza está no pouso. É justo o pousar... Nos despedimos. Agradeci. Foi então que avoei.

Nuvem

Vejo o sol nascer rompendo a escuridão e a noite aproximar-se minguando a lucidez da visão. Uma ode à Lua ladra este cão... Eu só sei viver nos extremos. Minha agonia é o interlúdio: este ocaso solitário das tardes que se arrastam, nos transpassam desejosas de amornar a paixão - equilibrar os excessos. Dependurada em meus dias, nego a transformação do tempo, fico imune à sua imagem de nuvem - Revivo os espasmos de nosso amor incompleto.