Moça na janela

Papo de bar, papo de vida... "Mulheres são complicadas! Indecifráveis! Vede a vida..."
O direito de discordar.



... Descobriu então nos olhos do amado: era amor pra toda a vida!
Jantaram. Conheceram-se. Diplomáticos. Economistas.
N'outro dia, um chamado. Inesperado.
Uma festa. Boas vindas...
Haxixe paquistanês. Maconha senegalesa.
Gin tônica número zero.
Viajaram...

O fogo e a balança na casa do peixe.
Um funk. Um soul. O beijo...
Um beijo. Mais um. Mais outro.
Vento frio... Mãos calientes.
O melhor que ela fazia? Dançar-se de música.
Seu nome era lira. E luna...

Uma porta. Um beijo. Uma escada. Um aperto.
Um chá...
Um quarto. Escuro. Luminária acesa.
Dança devota. Compartilhada. Recíproca.
Amou quem lhe cuidou, a menina.
Ele vinha de casa. Veio à casa. Gentil. Os olhos claros.

...Palavras que constroem afeto.
Cupido passivo e contente.
- "Confia"...
"Seguro, me liga".
- "Ele não joga".
"Já vi." Olhos claros...

Os ouvidos amaciados de Áustria
para uma América latina inteira!...

Batem à porta.
Adiantaram prevista partida.
A nuvem negra do leste, que superpunha o sol dos dias,
transportou-se lenta e cruzou-nos pela maçaneta.

Escadas abaixo...
O beijo da despedida.
- "Hasta luego!"
A porta entreaberta foi cerrada?...
Mas "hasta luego".
- "Hasta luego".

... O tempo. A menina.
Menina...
Sozinha.
Promessas.

A pergunta dela?
- Indecifrável? Ela?
Palavras são feitas de vento e revestidas de cimento...
Não sei quem inventou o juramento. Asseguro que um varão.
Culpa dela! Na dela...
Os olhos claros daquele que não sabe jogar.
"Pois elas sabem ludibriar!"...

O tempo...
Olhou o tempo. Olhou os ponteiros. O clima. A menina.

Olhou a menina, os ponteiros...

...Então virou segundos. Minutos. Horas. Um calendário... Dias.
O nunca. De nada.
Virou ela.
O tempo, na janela.
A espera.


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