Lágrimas de mulheres

 


Reúno forças para atravessar um mar desconhecido

Levo poucas roupas e alguns livros,

Cheiro o medo e a esperança,

Amarguras e tristezas,

O sal e a areia: desejos e fracassos de mulher.


Como se me houvessem estancado braços e pernas, meu coração cresceu amorfo: grande e maleável, 

Junto ao meu choro, as lágrimas de outras.

Ontem senti uma mancha no peito e tentei tirar vida de pedra, 

conhecer seus sulcos e dureza, 

aonde ela espeta,

Como quem pressente dela uma potência.


Chuvas de indagações me molharam os espelhos d´água:

qual é a composição dos nossos desejos?, de que matéria ela é feita?

Quisera mergulhar a ponto de me dissolver o bastante pra encontrar a minha verdadeira essência.

Suspeito que ela é minúscula - poeira de estrelas.


Acho que as estrelas não conhecem a solidão porque fomos nós que criamos o nome dela. 

Hoje mesmo, passou uma boiada no meu rio sem que eu pudesse dar nome aos bois, 

mas as coisas nunca são apenas os nomes que damos a elas. 

É preciso um sem-fim de versos para cada perspectiva, para cada recorte de tempo...


Acho que a minha natureza é o desencontro. 

Desencontro para encontrar a mim mesma. 

Acontece que eu sempre me escapo.

Ainda não aprendi a embalsamar a ferida aberta. 



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