Breve diálogo



Hoje estava na janela, distraí-me o bastante e a Poesia me pegou. É assim que ela tem feito todos esses anos. 

Fujo dela porque lhe faltam delicadezas. Às vezes ela me leva para um poço profundo e me põe a pescar palavras...  Desse ofício não se sai mais o mesmo. 

Já gritei com a Poesia inúmeras vezes, prestando odes à Loucura e a Fantasia. Mas empreendo a Fantasia é na própria vida. Pois que, se escrevo, sou capturada outra vez pela Outra.  

Quando fico doente o bastante para criar bolas de pelo na garganta e no peito, busco acupuntura e terapia e não tem jeito... lá vem outra vez a Poesia.  Fato é que ela não desiste de seus filhos e cura desde as profundezas. 

Pois hoje lhe encarei as fuças e... quer saber?
Cala-se a Poesia porque ela desata nó. Poesia é caminho de quem é. Poesia é crua. Faz poema quem mergulha.  

E a Dúvida é decisão pela racionalização. É ficar no tampão. Dois caminhos dividem, fragmentam e matam. Ninguém quer morrer, ninguém quer decidir, ninguém quer desunir. Então se dissipa energia sem se mover. Movimento nesse plano é traição.

E vai mergulhar por debaixo da dúvida!... 
Cuidado que a Poesia te deixa nu! 

Verdadeira poesia é cruz que afugenta diabo. É medicina, é verdade e fim de papo. É mergulhar na fonte aonde nascem as palavras, é o fim da linha. 

Ai, se eu amasse Poesia!...

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