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Mostrando postagens de novembro, 2014

Prece

Faça-se de mim uma oração das terras de longe! Porque milhas me fazem crescer, porque preciso situar-me no não-lugar da sua cama, debaixo do seu edredom - essa imensa colcha de retalhos  de tudo o que não pertenci, de todo o meu vir-a-ser... A vida é tão frágil, breve, cheia de traços leves... - ensina-me a arte da sutileza! Quero me perder de hojes: no cheiro do ar, no gosto do vento, na fotografia desses mil olhares... Poder abrir brechas no coração asmático, aprender o ser-breve com a caneta.

La-passante

Recebi uma foto da nossa felicidade desnuda de tempos atrás... Blue jeans, motocicletas e cachaça de gengibre. O bar da cachaça trazia sua crônica às calçadas. Na Lapa, outro aroma submerso de cores pastéis... O não-ser dali concedia-nos asas de desbravador A festa Maracangalha carregava a poesia da vida comunal dos Novos Baianos - É que éramos retirantes, seu moço, de um bairro distante, fluíamos de amor aos goles de cerveja - ela ainda era só esplendor. Uma palavra: pureza. Neste dia eu me libertava de um amor platônico que me consumira dois anos acadêmicos. Resolvemos dançar a dor. Ali perto, na praça da Cruz Vermelha, ainda não rolava o Samba do Bigode, mas um encontro regular de gente - gente querendo transcender o ego, transgredir. Assistíamos filmes marxistas, líamos Marx como poesia, e dividíamos nossas humanidades da psicanálise anterior - buscávamos emancipação e amores livres. Ainda não era materialismo, era o desejo de comungar prescindindo de Deus - ele e